Revista Ações Legais - page 111

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Por Daniel Medeiros, professor de
História
o primeiro – e único – imperador brasileiro, que ficou no cargo por 49 anos, até ser depos-
to, em um golpe melancólico, sem resistência dos súditos nem sacrifícios heroicos, em
1889. Entre os tais méritos, segundo as páginas da internet que nos oferecem um cv do
imperador (embora sem citação de fontes), o governo de D. Pedro II não teria conhecido
“um único caso de corrupção”, o país teria diminuído o analfabetismo em mais de 50% ,
faculdades e escolas teriam sido espalhadas pelo território nacional, obras gigantescas
foram erguidas, o país impôs sua liderança frente aos “inimigos” continentais, era respei-
tado em “todo o mundo” e o imperador era um intelectual e um governante festejado
por onde passasse. Como nos reinados dos contos de fadas, o céu era sempre azul e to-
dos eram felizes, governados por um rei sábio e generoso.
Como sabemos (ou deveríamos saber), a Democracia tem como fundamento próprio,
inerente ao seu próprio fundamento, a ideia da Crise. Logo, a existência dos debates, dos
confrontos políticos e ideológicos, da alternância no poder, da instabilidade e do chama-
mento constante dos cidadãos ao cenário da polis para decidirem e voltarem a decidir
constantemente, é a natureza própria dessa Democracia. Os ingleses, aliás, sabem bem
disso. Para além do manto real, a política fervilha em uma Inglaterra em crise, principal-
mente após o surpreendente e ainda não assimilado plebiscito conhecido como Brexit.
Mas aqui, nessas nossa plagas, o desejo de um rei que “reine e governe”, que “ponha
ordem na bagunça”, que “acabe com essa sujeira dos políticos”, que “garanta a ordem”,
entre outras expressões que colho diretamente das páginas do Facebook, a ideia de um
governo longevo tem semelhança com outro tipo de governante. Não a rainha cálida e
ponderada, discreta e decorativa, mas o caudilho operante e rigoroso, o coronel de chi-
bata, o general de cinco costados. Enfim, e lamentavelmente: a atração de muita gente
pelos governos longevos não passa de saudade da ditadura.
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