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mudou: a necessidade de aprender. Somos seres que precisam aprender. E, no entanto,
nunca vimos tanta inovação baseada no compartilhamento e na aprendizagem.
Mas antes que você pense que não dou o devido valor às mudanças, afirmo que aprender
hoje não é mais o mesmo fenômeno de tempos passados. As tecnologias e o comparti-
lhamento, para ficarmos só nesses dois fatores, faz com que a aprendizagem passe a ser
coletiva. A aprendizagem individual continua sendo importante, mas o que conta agora é
a aprendizagem de grupo.
A nossa vida é uma rede de atividades que são organizadas coletivamente e nos ligam
a outras pessoas por meio de objetos, artefatos e tecnologias, que nesse contexto são
mais do que isso, e que podemos chamar de arranjos sociomateriais. Pense no que está
fazendo agora. Lendo esse texto? Obrigado pela preferência, mas por mais que você es-
teja atento ao texto, você está também participando de inúmeras outras atividades que
o liga a inúmeras outras pessoas.
Levemos a conversa para o mundo do trabalho. Para que possamos atuar em equipe é
necessário, dentre outros fatores, que as atividades que fazemos tenham um sentido, um
propósito e uma identidade. Saber o que fazer, como fazer e porque fazer, mas não de
forma isolada, e sim de forma interconectada e compartilhada. Baseado nas ideias de Ted
Schatzki, um filósofo da Universidade de Kentucky, considero que quando um grupo con-
segue estabelecer coletivamente o sentido das suas atividades e a identidade do próprio
grupo, construiu o que chamamos de inteligibilidade das práticas do grupo
Mas que diferença isso faz? Quando um grupo consegue construir esse sentido e essa
identidade produz um conhecimento que é coletivo, e não resultado do processo cogni-
tivo individual. Por isso essa construção só faz sentido para aquele grupo e para aquelas
atividades. Além disso essa inteligibilidade não pode ser confundida com racionalidade;
ela se refere aquilo que é significativo para as pessoas fazerem, e não necessariamente o
que é racional.
A isso chamamos aprendizagem do grupo: a construção coletiva de sentido e identidade,
que permite ao grupo enriquecer sua experiência coletiva no sentido de aumentar sua
capacidade em lidar com os problemas existentes, reformulá-los, bem como identificar
novos. Esse último aspecto é fundamental quando se pensa a questão da inovação, pois
encontrar novas soluções requer também a habilidade de identificar novos problemas.
Isso significa que os grupos não precisam de líderes? Ao contrário, nunca a liderança foi
tão importante. Um líder necessita compreender como o grupo constrói a inteligibilidade,
e identificar seus principais elementos. Saber quem é quem, as competências e habilida-
des de cada colaborador, como designar atividades e tarefas continua sendo importante,