Revista Ações Legais - page 18-19

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comunitária. “Percebe-se que não há incentivo no âmbito familiar. Também as escolas
investem pouco na previsão de práticas cívicas. Esse quadro de apatia e de falta de com-
preensão da importância das ações comunitárias explica o baixíssimo índice de interesse
na política, inclusive atividades partidárias, como instrumento de transformação da re-
alidade social, pois através dos partidos políticos se pode interferir nas prioridades das
decisões político-administrativa, com repartição mais adequada das riquezas produzidas
pelos brasileiros”, pontua.
O promotor de Justiça Eduardo Cambi também acredita que o retrato encontrado nas
instituições de ensino é um espelho da sociedade. Visitando escolas nas ações do pro-
grama, especialmente à noite, diz ter encontrado muitos alunos que trabalham de dia e
chegam cansados à sala de aula, bem como professores desmotivados. “É preciso fazer
algo para mudar o cenário cinza de algumas escolas”, afirma, acreditando que o incentivo
ao exercício da cidadania pode ajudar a alterar esse quadro. “A escola pode se aproximar
mais dos problemas sociais e, ao invés de trabalhar com temas abstratos, ensinar, por
exemplo, os alunos a usarem a Lei de Acesso a Informação e a fiscalizarem os portais da
transparência.
Por sua vez, os estudantes, ao participarem dos grêmios estudantis, dos conselhos esco-
lares ou de outros espaços democráticos, deveriam contribuir com a gestão da escola,
além de cobrar os diretores das instituições de ensino para que prestem contas de suas
atuações e do uso do dinheiro público. Tais iniciativas poderiam melhorar o próprio am-
biente escolar, refletir na qualidade do ensino e expandir para fora das escolas, atingindo
os pais dos alunos e outros cidadãos que vierem a ser incentivados a participar de audi-
ências públicas, associações de bairros, observatórios sociais, reuniões de conselhos de
direitos, associarem-se a partidos políticos… enfim a lutarem por seus direitos e por uma
sociedade mais ética e justa”, sugere.
Venda de voto
Como reflexo da ausência de vida cívica
e de compreensão das balizas mínimas
para vida em sociedade, o procurador
Armando Sobreiro aponta o alto per-
centual (14,17%) de afirmações admi-
tindo a venda do voto por R$ 1.000,00,
sendo que 5,62% ainda ficaram em dú-
vida. “Isso revela que a compreensão
da dimensão real da corrupção não é
alcançada, já que limitada pelos efeitos da cultura da ‘vantagem’ e da ‘esperteza’. Não há
compreensão, por parte de boa parcela dos jovens entrevistados, de que a vantagem in-
devida recebida em disputa eleitoral vai custar muito caro quando os políticos corruptos
assumires o poder, notadamente nas políticas públicas nas áreas mais sensíveis (saúde,
educação, segurança, etc.).”
Armando Sobreiro também apontou aspectos positivos na pesquisa, como a indicação
de que 53% dos entrevistados entendem que a educação política deveria estar presente
nas escolas, muito embora se perceba resistência de 11%. As opiniões sobre a eficácia da
representação política nas diversas casas legislativas e no executivo dos entes federados
revelam que há a percepção de que boas escolhas nos anos eleitorais são fundamentais,
ou seja, a necessidade de qualidade do voto precisa ser acompanhada da percepção de
que transformações somente serão possíveis com a inserção dos jovens na vida partidá-
ria, de modo que se promova a transformação política pela raiz.
Atuação do MP
Para o procurador Armando Sobreiro, a pesquisa é reveladora no sentido de demonstrar
ser indispensável o incremento nas ações de resgate da cidadania, como o trabalho de
excelência da “Geração Atitude”, não apenas para incrementar o interesse na política,
mas também e essencialmente para que as novas gerações tenham a real dimensão do
que significa “soberania popular” e de como transformar a realidade atual.
Cambi crê que a pesquisa apresenta um momento propício também para uma atuação
direcionada do Ministério Público: “A Constituição Federal atribuiu ao MP a defesa do
regime democrático. E a democracia brasileira precisa ser mais efetiva e deve ser perma-
nentemente aperfeiçoada. Por isso, o papel de educar para o exercício da cidadania não
é só das instituições de ensino, mas também é nosso. O programa Geração Atitude foi
premiado em 2017 pelo CNMP como uma boa prática nacional, na categoria redução da
corrupção, e está iniciando seu quarto ano de aplicação.
Projetos como este aproximam o MP da escola, levam o promotor de Justiça à sala de
aula e trazem os professores e os alunos para conhecerem o MP e como nós podemos,
juntos, atuar na promoção dos direitos fundamentais. Além disso, possibilitamos, pela
Caravana da Cidadania, que jovens de todo o Estado conheçam as sedes dos Três Poderes
e do MP, e que as melhores ideias que tiverem para mudar o Paraná cheguem até Assem-
bleia Legislativa, o que empodera os estudantes como cidadãos ativos e permite que o
parlamento analise essas propostas e as possa transformar em leis”.
Procurador de Justiça Armando Antônio Sobreiro
Neto, coordenador das Promotorias de Justiça
Eleitorais do Ministério Público do Paraná
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