108
ESPAÇO DAS LETRAS
HISTÓRIA DAS EPIDEMIAS
Stefan Cunha Ujvari, Editora Contexto, 320 páginas, R$ 59,00
O infectologista Stefan Cunha Ujvari trata, neste livro fascinante e
atualíssimo, das epidemias e pandemias mais marcantes da nossa
história. Partindo da Grécia Antiga e chegando até os nossos dias,
o livro aborda doenças como peste negra, sífilis, gripe, ebola. Dedi-
ca um capítulo para a covid-19 e mostra por que, afinal, essa doen-
ça parou o mundo. “
O autor faz um relato das principais epidemias que nos afligiram
desde que inventamos a agricultura, criamos os primeiros aglome-
rados humanos e a necessidade irresistível de visitar terras estra-
nhas atrás de bens de consumo, conquistas territoriais ou movidos
pelo espírito aventureiro.
Num estilo literário claro e conciso, o autor explica como viviam as sociedades quando sur-
giam cada uma das epidemias que descreve. A descrição histórica prende a atenção e traz
detalhes fundamentais para entendermos que a transmissão de doenças infecciosas depen-
de do estilo de vida e acontece dentro de contextos socioeconômicos característicos; não é
consequência de maldições divinas como supunham nossos ancestrais e como muitos imagi-
nam ainda hoje.
Na descrição do contexto histórico e das condições sociais vividas pelas comunidades nas
quais surgiram as principais epidemias, Ujvari expõe com clareza como uma doença infec-
ciosa que se inicia em meia dúzia de pessoas pode provocar milhares de mortes e chama a
atenção para o grande mistério das epidemias: por que razão em determinado momento
elas desapareceram.
MULHERES CHOVEM
Myriam Scotti, Editora Penalux, 77 páginas, R$ 38,00
O novo livro traz o encantamento típico de toda boa poesia, per-
mitindo ao leitor ser sugado por um torvelinho de palavras que es-
correm do papel e, como epifania, passam a deslizar na mente, an-
dando pelas bordas e beiras até transbordar ou desaguar as dores.
As poesias de Myriam, cujo tema é o universo feminino, são assim
devastadoras. E falam da mulher, esse todo que não se define. A
mulher, que não é uma, mas tantas. A mulher, que é feita de frag-
mentos pulsantes, num desencaixe que não é de fúria, mas furor
de resistência e restauro para quem tem coragem de enfrentar os
dias.
É preciso ser rio, para dissolver toda a experiência humana. É pre-
ciso ser água, para escorrer sem reservas. É preciso chover, para que se veja o arco-íris (arre-
mata a poeta!). E nunca esteve tão certa.