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Passeatas já não adiantam mais
Por Mario Braga
N
a década de 60, Roberto Carlos costu-
mava cantar “cartas já não adiantam
mais” e eu gostaria de repetir para
quem quisesse me ouvir – passeatas já não
adiantam mais.
Os movimentos populares nos mostram cla-
ramente que a população não está satisfeita
com os rumos da política, mas pecam ao dei-
xar de adicionar uma proposta concreta. Estas
manifestações muito frequentemente caem
no esquecimento e resultam ineficientes. Não
adianta fazer uma passeata contra a corrupção
se ela não for acompanhada de uma proposta
de combate a este mal.
O Instituto ResNovae, criado no Paraná e com
adeptos em todos os Estados brasileiros, pre-
ga que a democracia começou a mostrar sinais
de fragilidade no dia em que apareceu a figura
indesejável e desnecessária do representante
público profissional.
Esta pessoa (o famoso político) quer de todas
as maneiras nos fazer acostumar com a ideia
de que todas estas falcatruas são normais
na vida democrática, que são necessários os
acordos espúrios e de que todas aquelas con-
tribuições roubadas de empresários mal inten-
cionados fazem parte das regras do jogo. Isto
é uma mentira! Estes desvios de ética visam
somente à preservação dos atuais dirigentes
e são atitudes contrárias aos reais interesses
dos eleitores.
O sistema democrático não precisa e nunca
precisou de políticos profissionais. Todos os cargos no Legislativo e Executivo podem
perfeitamente ser ocupados por nós mesmos, por empresários, professores, advogados,
donas de casa, médicos, estudantes, jornalistas, etc. Pessoas que têm outra profissão e
apenas se dispõem a nos representar por um mandato.
A democracia para voltar a ser bonita precisa da inelegibilidade automática, ou seja: um
representante é eleito, exerce seu mandato e ao final volta para sua atividade profissional
de origem. A política não pode ser encarada como carreira profissional onde o cidadão se
elege para vereador, depois para deputado, depois para senador, prefeito, governador,
senador de novo etc.
Trabalhar pela inelegibilidade automática seria, portanto, uma das maneiras de fazer algo
concreto pelas futuras gerações. O Instituto ResNovae acredita nesta alternativa e está
coletando assinaturas de apoio em todos os cantos do Brasil. A ideia, inédita no mundo, é
que este grupo (que não tem e nem pretende ter candidatos) vista uma “pele de lobo” e
passe a falar no horário político. No dia em que isto acontecer (são necessárias setecen-
tas mil assinaturas), muita coisa vai começar a mudar no Brasil e o horário político dará
espaço, pela primeira vez, a um grupo que não está buscando votos, está apenas queren-
do dizer o que o eleitor pensa.
Precisamos mostrar claramente que estamos fartos da classe política e buscamos alter-
nativas. Se a população der o seu apoio, com certeza um desses trinta e dois partidos re-
gistrados no TSE vai colocar a inelegibilidade automática em seu estatuto e passar a nos
oferecer somente candidatos que não vejam a política como profissão. A partir daí nós
eleitores passaremos a ter realmente uma opção nova no cardápio eleitoral. Se passeatas
fossem suficientes, nós poderíamos fazer uma passeata contra o vírus ebola.
Mario Braga é engenheiro civil, economista e
presidente nacional do Instituto Res Novae
ARTIGO