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FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
E olha que eu gosto de animais (gato não muito), tanto é verdade que temos a Ivy, uma
tartaruga, que minhas netas deixaram aqui para viajar e não vieram mais buscar.
Minha implicância com o brucutu desalmado e irracional é tenta que estou ficando
traumatizado. Quando durmo à noite sonho com ele, é quando me vingo para valer.
Não sei o que eu faço, só sei que ele corre latindo e sem olhar para trás. São cavacos
da vida. Só de escrever sobre o cachorro me lembrei do Janot, o ex-procurador-geral
da República, que declarou na mídia que pensou seriamente em comparecer armado
em uma sessão do STF e lá pelas tantas, sacar de um revolver e atirar no Gilmar para,
em seguida, cometer suicídio.
Putz imagine o seu estado de espírito para pensar em tamanha estultice. Pensei com
meus botões: o Gilmar deveria ser para o Procurador o que o “totó” da casa do meu
compadre é para mim.
- Quase isto! - falou a voz de minha consciência. - Ele era um cavalo sentado na poltrona...
Xi, não tinha pensado nisto. Para um homem aparentemente ponderado como o Ja-
not querer praticar um desatino que ele próprio comentou, só mesmo um cavalo para
tirá-lo do sério.
Em seguida voltei a minha própria realidade. E pensei.
Trim, trim, trim. depois de tocar a campainha à porta abriu:
- Oh, compadre. Seja bem-vindo, entre!
Entrei de mansinho procurando o cachorro por todos os lados e fui surpreendido com
a presença de um cavalo. Meu compadre trocou o cachorro que eu não gostava por
um cavalo, Manga Larga, de porte super avantajado. A sua cabeça era enorme e os
olhos tinham as tamanhas quatro vezes maiores do que um meu.
E quando sentei no sofá senti que pousei em cima da barriga do equino. Fiquei sem
graça, mas permaneci sentado, rezando para que o animal não levantasse e fosse
deitar sobre os meus pés. Seriam fraturas com certeza. E quando a conversa fluía o
cavalo relinchava.
Não sei se ele estava me provocando e rindo da minha cara, ou se ele apenas queria
participar da conversa. Quando voltei para casa, pensei seriamente em pegar meu re-
vólver e voltar na casah do meu compadre para matar dito cujo animal. Só não ousei
porque pensei no Janot e conclui que conviver com um cavalo é mil vezes pior do que
ser encarado por um cachorro.
Desde então tenho ido à casa do meu compadre sem nenhuma objeção ou trauma.
Até já estou acariciando a cabeça do simpático cachorrinho...
“Imaginar tirar a vida de alguém dá para avaliar como a vítima em potencial é intragá-
vel. Em uma roda é o estraga prazer; conversando um chato; contando piada um re-
petitivo; julgando é o único dono da verdade; e rezando o único que se acha infalível
e santo. O Tal do Gilmar é a verdadeira mala sem alça!”