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Quem vai cuidar dos nossos pais?
Marleth Silva, Viva Livros, 208 páginas, R$
22,00
“Minha mãe se queixava de mim para os
outros.”“ É difícil fazê-lo comer, tomar ba-
nho”. “Só não vou dizer que a morte dele foi
um alívio porque morro de saudades.” Estas
declarações de cuidadores de familiares ido-
sos expõem as dificuldades que muitos bra-
sileiros estão enfrentando com a velhice dos
pais. Com o intuito de dar voz aos profissio-
nais que trabalham com pessoas de idade
avançada e às experiências dos próprios cui-
dadores de família, a jornalista Marleth Silva
lançou “Quem vai cuidar dos nossos pais”,
que recebe agora uma edição de bolso pela
Editora Viva Livros com conteúdo atualiza-
do.
O livro retorna às livrarias em um momen-
to oportuno, em que a população brasileira
continua envelhecendo e os gastos com as aposentadorias, pensões e assistência aos
idosos ameaçam chegar a 1 trilhão em 2050, de acordo com o Ipea. Para além dos aspec-
tos econômicos, a questão crucial é a qualidade de vida das pessoas na terceira idade.
No livro, a autora cita o rabino norte-americano Zalman Schachter-Shalomi, que traz à
tona o problema: “Se temos uma expectativa de vida maior sem a consciência de possi-
bilidades oferecidas por uma velhice produtiva, significa que estamos apenas morrendo
mais tarde”.
Baseada também em sua própria experiência com a mãe, a autora apresenta conselhos
para lidar com as responsabilidades de ser cuidador, traz depoimentos e dicas de espe-
cialistas e aborda temas delicados, como a sensação de culpa ou raiva e a necessidade
de redobrar os cuidados com a própria saúde: “Cuidar de um idoso dependente ou do-
ente é uma experiência carregada de frustações. Alguém já disse que é como cuidar de
um bebê, só que o bebê aprende e fica mais forte a cada dia e o idoso fica mais fraco
e perde habilidades. Mas há oportunidades para bom humor e amor. É preciso decidir
valorizá-las”, afirma.
Marleth Silva é jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná e mestre em
Comunicação pela Universidade de Westminster (Inglaterra). Trabalhou no Jornal do
Brasil, Gazeta do Povo e Veja. Vive em Curitiba e tem dois filhos.
ESPAÇO DAS LETRAS
Guerra Secreta - The way of knife
Mark Mazzetti, tradução de Flávio Gordon,
Editora Record, 392 páginas, R$ 44,90
Os ataques terroristas de 11 de setembro pro-
vocaram mudanças estruturais na complexa
rede de exército-inteligência norte-america-
na. Não necessariamente para melhor. É o
que defende o jornalista Mark Mazzetti no li-
vro “Guerra secreta”, que chega ao Brasil em
abril pela Editora Record. Vencedor do Pulit-
zer em2009por umconjuntode reportagens
sobre a reação de Washington à violência no
Paquistão e Afeganistão, Mazzeti argumenta
que os Estados Unidos têm perseguido seus
inimigos por meio de uma guerra obscura,
auxiliada por drones armados, robôs assas-
sinos e controversas operações especiais,
como a que matou Osama Bin Laden.
O autor mostra como as fronteiras entre as
funções dos soldados e os espiões foram ex-
tintas, permitindo que a CIA assumisse tarefas tradicionalmente associadas às Forças Ar-
madas e que estas, por sua vez, conduzissem missões de espionagem: “A prioridade da
CIA já não é mais reunir informações sobre governos estrangeiros e os seus países, mas
sim a caçada humana. A nova missão premia quem colhe informações detalhadas sobre
indivíduos específicos, e pouco importa o modo como isso é feito”, declara Mazzeti.
Um dos pontos curiosos abordados pelo jornalista é a institucionalização dos ataques
com drones, apesar de todo o sigilo em torno desta tática de guerra. Mazzetti conta que
a administração de Obama foi aos tribunais para se posicionar contra a publicação de do-
cumentos ligados aos drones da CIA. O autor chama atenção também para uma pesquisa
realizada pela Universidade de Stanford que revelou que 69% dos entrevistados apoiam o
governo americano no assassinato secreto de terroristas.
“Guerra Secreta”mostra como, segundo o autor, a atual forma de combate ao terrorismo
conduzida pelos Estados Unidos tem não só destruído, mas criado inimigos. A placa “lar
de caçadores” no muro da base aérea de Creech, em Nevada, parece confirmar as posi-
ções de Mazzetti.
Além do Pulitzer, Mark Mazzetti venceu outros prêmios, entre eles o George Polk Award
(com o colega Dexter Filkins) e o Livingston Award, por desvendar o caso da destruição
de fitas de interrogatórios da CIA. Escreve para o New York Times e já colaborou para o
Los Angeles U.S News & World Report e para a The Economist. Vive emWashington DC.