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ARTIGO
Nada deu certo
U
m dos assuntos mais comentados nas re-
des sociais ao longo desta semana foi a
“brincadeira” feita por alunos da Instituição
Evangélica de Novo Hamburgo. Caso semelhante
aconteceu em 2015, no tradicional Colégio Marista
Champagnat, de Porto Alegre. Tratava-se de uma
ação organizada pelos alunos do terceiro ano (vesti-
bulandos, portanto), intitulada “se nada der certo”,
em que os alunos vestiam-se com fantasias e unifor-
mes de profissões que consideram fracassos: faxi-
neiras, garis, garçons, atendentes do McDonald’s,
vendedores e afins.
As críticas viralizaram nas redes sociais. A própria
instituição, tentando minimizar o ocorrido, explicou
que o objetivo da ação era de “trabalhar o cenário
de não aprovação no vestibular”. O caso é preocu-
pante e, talvez, evidencie que nada deu certo mes-
mo. A escola, enquanto espaço educacional é, em
princípio, fundamental na formação de nossas sub-
jetividades. Não somente a difusão do conhecimen-
to técnico-científico, mas também processos de so-
cialização, de (re)conhecimento do Outro devem
ocorrer na escola. A percepção que temos sobre o
mundo, sobre nós e sobre os demais decorre em
boa medida desses processos que nos constituem
ao logo da nossa vivência.
Numa sociedade como a nossa, com um passado
escravocrata-senhorial mal superado e marcada
por desigualdades estruturais abissais, a figura do
Outro é muitas vezes construída a partir de um dis-
curso de inferiorização, de exclusão. Os espaços de
interação social com o Outro diferente, espaços pú-
blicos por excelência, cada vez mais são evitados.