Revista Ações Legais - page 101

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Por Flávio Bortolozzi Junior, mestre e
doutorando em Direito, é professor da
Universidade Positivo (UP)
O grupo social ao qual pertencem esses alunos
muitas vezes vive em espaços privados de plura-
lidade: condomínio, clube, shopping center etc.,
em que o diferente não é aceito ou bem-vindo.
Um verdadeiro apartheid social brasileiro, uma
sociedade de muros e segregação, que pode ser
representada sinteticamente numa figura: a do
elevador de serviço.
Cada vez mais os critérios sociais identificatórios
de pertencimento ao grupo que “deu certo” são
definidos por marcas, status e símbolos de con-
sumo. O esvaziamento do sujeito, reduzido ao
seu poder de consumir. Essa homogeneização
cultural pelo consumismo marca as sociedades
contemporâneas. Escamoteados por um falso
discurso de meritocracia, os privilégios deste
grupo de alunos são confundidos por eles com
sucesso, reproduzindo uma estrutura de hierar-
quia socioeconômica, e reforçados por visões
de mundo discriminatórias e excludentes. O Ou-
tro, porque diferente (economicamente, social-
mente, educacionalmente etc.), é visto como inferior, como aquele que “não deu certo”,
destinado a servir, uma subcategoria de humanos que “não deu certo”.
Esse tipo de mentalidade, violenta e excludente, para não dizer tacanha, deve ser pro-
blematizada e desconstruída na escola e em sociedade. A estrutura econômica, bem
como o acesso privilegiado ao conhecimento técnico-científico de ponta, propiciará a
estes alunos ocuparem cargos de prestígio, de poder – de status social. Isso não pode
ser confundido com “dar certo”. A alteridade, o respeito e o (re)conhecimento do Ou-
tro como um ser humano devem ser tidos como a base do processo de formação edu-
cacional. Formação não para o consumo ou exclusão do Outro, mas sim para a convi-
vência em sociedade. Se assim entendermos, os casos recentes do Rio Grande do Sul
mostram que “nada deu certo”.
"Um verdadeiro
apartheid social
brasileiro, uma
sociedade de muros
e segregação,
que pode ser
representada
sinteticamente
numa figura:
a do elevador
de serviço"
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