Revista Ações Legais - page 50-51

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de agrotóxicos no Brasil e seus reflexos para o meio ambiente e a saúde humana.
Nodari contou que durante sua graduação em agronomia fez experiências com transge-
nia. “No entanto, como recomendou Einstein, passei a pensar ao contrário. Hoje não sei
se os conceitos de sustentabilidade e de biodiversidade vão prevalecer a tempo de salvar
a humanidade. Me parece que para muitas espécies, sim; para o homem está cada vez
mais distante”, apontou.
O especialista citou, como exemplo da má gestão ambiental pela humanidade, o fato de
que o nitrogênio usado na agricultura está perdendo eficiência, o que exige quantidades
cada vez maiores da substância. “A agricultura como fazemos hoje não é mais uma op-
ção. A transgenia foi intensificada com o objetivo de resolver alguns problemas: elevar
a produtividade e reduzir o volume de agrotóxicos. Dois de seus efeitos são as plantas
resistentes a herbicidas e ainda a liberação, pelos vegetais, de toxinas que repelem os
insetos. As duas coisas têm consequências dramáticas para a saúde humana”, explicou.
Mais agrotóxicos
De acordo com o professor, o Brasil, com a liberação dos transgênicos, duplicou o uso do
agrotóxico, o que por sinal é tendência no mundo todo. “No entanto, não há diferença
de produtividade entre o milho com melhoramento convencional e com transgênico. Ali-
ás, a Embrapa adverte que o milho, alimento sagrado para os povos americanos, pode se
tornar uma erva daninha dada a resistência proporcionada pela transgenia”, mencionou.
O conferencista fez alusão ao recado dado pela pesquisadora norte-americana Rachel
Carson, que em 1962, abalada pelas constatações de estudos sobre os efeitos do DDT,
escreveu o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa). Carson relatou que o DDT usado na
agricultura atingia ursos polares, a milhares de quilômetros. No prefácio da obra, a cien-
tista afirmou que o homem havia perdido a capacidade de prever as consequências de
seus atos e que, por isso, acabaria se destruindo
O pensamento de Rachel Carson, afirmou o professor Nodari, parece cada vez mais um
prognóstico. Segundo ele, todas as análises de água que tem visto indicam a presença de
agrotóxicos. O DDT, citou, está presente na água de uma cidade catarinense, embora o
produto tenha sido banido há mais de duas décadas. Nodari mencionou ainda que a neu-
tralização do princípio ativo é de R$ 0,07 por litro de água.
Saúde em risco
O preço do uso desenfreado dos agrotóxicos é a saúde humana. “Temos dados científi-
cos robustos para sustentar que a exposição aos agrotóxicos eleva a probabilidade de
desenvolver câncer. Os EUA, que já foram líderes mundiais em agrotóxicos, agora se pre-
ocupam com isso. Hoje quem lidera o uso de pesticidas na agricultura é o Brasil. Além de
câncer, o agrotóxico causa outros males. Há uma universidade norte-americana pesqui-
sando a relação entre pesticidas e autismo.
Outro efeito dramático de uma agricultura baseada em transgenia e dependente de agro-
tóxicos é o declínio dos polinizadores. Todavia, todas as culturas, com exceção das que
fazem autofecundação, dependem em algum grau da polinização. “Há mais de 2 mil espé-
cies de abelhas que garantem a nossa biodiversidade, mas elas estão sendo afetadas pela
liberação de toxinas que repelem insetos. Abelhas expostas ao pólen de milho transgêni-
co perdem seu padrão de comportamento, vital para a polinização. Portanto, o biodiver-
sidade está em risco. E nossa saúde depende da biodiverisade”, destacou.
Sem contraditório
O professor também apontou como problemática a falta de acesso aos estudos de trans-
genia e de uso de pesticidas. “Só os proponentes têm acesso a esses estudos. Portanto,
falta o contraditório, algo tão caro à advocacia. E sem contrário o que faz a agência regu-
ladora? Aprova. Essa é uma grande perversidade do sistema”, afirmou.
Para evitar a autodestruição, considera o especialista, a espécie humana só tem uma
chance: produzir alimentos sem resíduos químicos, com base em princípios agroecológi-
cos para o manejo da água, para a acumulação de matéria orgânica e outros. “Estamos
acostumados com a uniformidade da agricultura extensiva. Contudo, isso é ruim para
todo mundo”, sentenciou.
DIREITO AMBIENTAL
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