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ARTIGO
A corrupção e a economia
brasileira
Por Wellington Calobrizi, empresário
A
corrupção estende-se muito além do que
vemos diariamente nos noticiários. Pratica-
da por políticos e toda a esfera dos três po-
deres, está presente também no meio empresarial e
na sociedade civil. O chamado “jeitinho brasileiro”,
de algum modo, tem relação com uma cultura em
que vemos a corrupção correr pelas ruas.
No entanto, o que, inegavelmente, mais nos afeta
e conta com cobertura extensiva da mídia é a ques-
tão do desvio de recursos públicos e sua má admi-
nistração. São diversos casos de improbidade que
envolvem desde lavagem de dinheiro, superfatu-
ramento em obras até a prática do pagamento de
propina que fomenta relações inescrupulosas entre
políticos, autoridades públicas e diferentes entes da
sociedade brasileira.
Uma das formas para estipularmos o grau dessa
corrupção no país é através do Ranking da Transpa-
rência, que apresenta a percepção de corrupção em
países de todo o mundo. Nele, há uma lista com 176
países, e o Brasil ocupa atualmente a 79ª posição.
A falta de transparência e de um comportamento
ético, mesmo diante das grandes operações anti-
corrupção que têm sido realizadas ao longo dos úl-
timos anos para combater crimes no setor público
(sobretudo, a partir do mensalão), reforçam o quan-
to o país é vulnerável nesse aspecto.
Além de muitos recursos desviados, que deveriam
ser investidos em melhores serviços para a popula-
ção e que, consequentemente, afeta as camadas mais pobres e mais dependentes deste
suporte estatal, a corrupção atinge diretamente o crescimento econômico do país, au-
mentando o número de desempregados, contaminando o ambiente de negócios do país
e fazendo com recursos que podiam ser investidos em infraestrutura, passem a ser utili-
zados de modo inescrupuloso.
Todos estes fatores, naturalmente, desestabilizam o PIB nacional. Para termos uma ideia,
um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) proje-
tou que até 2,3% do PIB do país são perdidos por ano com práticas corruptas.
Ademais, a corrupção prejudica, consideravelmente, a imagem do Brasil no mundo, di-
ficultando a entrada de investimentos e geração de negócios com países estrangeiros.
Com a falta de credibilidade e confiança causadas por tantas atividades ilícitas, a possibi-
lidade de parcerias com outros países para novos acordos comerciais acaba se tornando
menor. E, se não há investidores, o país não lucra, fator que, naturalmente, aumentará a
taxa de desemprego e renda dos brasileiros, assim como potencializará a alta da inflação
e dos juros, além do aumento da carga tributária.
Mesmo interferindo em tantos segmentos pelo país, a corrupção não é nenhuma no-
vidade e o economista Paolo Mauro, que se tornou referência no assunto com artigo
publicado em 1995 (Corruption and Growth), já apresentava evidências da relação entre
corrupção e desempenho econômico.
A grande verdade é que, dificilmente, podemos mensurar o real tamanho da corrupção
no Brasil, mesmo quando sofremos todos os impactos causados por ela.
Como viés positivo, ao menos, hoje em dia, os escândalos estão vindo mais à tona graças
a cobertura midiática e o trabalho da Polícia Federal. Este ponto deve ser comemorado
com um bom sinal e, o que se espera é que, com tudo isso, a população brasileira se tor-
ne cada vez mais consciente e contribua, por meio de seus votos nas eleições, para uma
verdadeira “faxina moral” do ambiente político brasileiro.
É preciso, ainda, que possamos contar com a aplicação cada vez mais efetiva da lei e pe-
nas mais duras para corruptos, capazes de diminuir o ímpeto de infratores do sistema
brasileiro. Por fim, é necessário mudar também a imagem com que o país é visto e isso só
se faz com uma mudança comportamental de toda a sociedade, buscando atitudes éti-
cas, priorizando sempre a justiça, para que, enfim, o país e sua economia voltem a crescer
de acordo com o ritmo de seu verdadeiro potencial.
Foto: Divulgação