Revista Ações Legais - page 60-61

60
61
ARTIGO
Refletir e agir
P
assados os festejos de final de ano, as férias de ve-
rão e o carnaval, aparentemente, as pessoas assu-
mem uma postura mais séria e se voltam para os
problemas do cotidiano. É comum ouvir dizer: agora o
ano começou!
Este ano favorece a reflexão sobre alguns temas que,
na minha opinião, devem ser sopesados pela sociedade
como um todo, sobretudo quanto ao pleito eleitoral que
se avizinha.
É inegável que há algumtempoopaís vivemomentos de
transformação. A mídia tem revelado que os princípios
da democracia são aviltados por comportamentos ina-
dequados daqueles que mantêm relações próximas ou
exercem o chamado poder político e, aproveitando-se
dessa situação, favorecema corrupção, o tráficode influ-
ência, os rombos nas contas públicas etc., subvertendo
com tais atitudes os valores morais e éticos que devem
nortear a vida do indivíduo em sociedade.
Desta maneira, o pleito eleitoral que se realizará neste ano propicia uma grande oportunidade
para que todo cidadão, ao exercer seu dever-poder de votar, participe do processo de aprimo-
ramentodo sistema social e político, sobretudo, porque a todos será dada a chance de semani-
festar, de se posicionar quanto aquilo que deseja para si e, sobretudo, para o país.
Nas democracias o governo é escolhido pelo povo e em seu nome deve ser exercido, simples-
menteporqueopovoé soberanoemsuas vontades. Nessepasso, oexercícioda cidadaniadeve
ser responsável e consciente, notadamente em relação à escolha daqueles que irão conduzir o
poder político da nação.
É de se ter sempre em mente que essa responsabilidade é intransferível e que a má escolha,
inevitavelmente, resulta emrepresentantes inconsequentes que continuarão a fazer triunfar os
vícios e as nulidades que desnorteiamas gerações forjadas emvalores corrompidos.
Mais do que simplesmente criticar e se envergonhar da forma como parte dos políticos tratam
a coisa e o interesse públicos, muitas vezes desvirtuados e desconsiderados em prol de conve-
niências personalíssimas ou de alguns poucos, é preciso compreender que cada cidadão tem a
ferramenta para coibir a ação daqueles que maculam os bons costumes, as leis e a representa-
ção que lhes foi outorgada, ao utilizarem instrumentos de corrupção, da mentira e da fraude
para obter vantagens ilícitas e indevidas.
Aliás, urge que essa reflexão seja feita para que se crie consciência de que o povo, a população,
cada cidadão, pouco importando sua condição social, é imprescindível na formatação de uma
sociedade mais justa e que busca a construção de uma ordem social que valorize a ética, a mo-
ral, que leve emconta os princípios cristãos e, como finalidade, privilegie o bemcomum.
Daí a importânciadeque todas as pessoas se conscientizemda sua fundamental importânciano
exercício da cidadania, do voto consciente, porque a omissão ou a eventual escolha incorreta,
inevitavelmente, acarreta problemas de grandemonta para toda sociedade.
Se enfrentamos - e enfrentamos - dificuldades com aqueles que exercem a representação polí-
tica, seja no poder executivo como no legislativo, é porque as individualidades não têm dado o
devido valor ao ato de escolher quemdeve desempenhar o dito poder político.
Todo cidadão - aqui como umdever, uma obrigação - precisa ter consciência de que é artífice na
construçãodobemcomumeque isso, repita-se, irremediavelmente, passapelaescolha respon-
sável de quemo representará.
Simplesmenteporque todos sãopartícipes na construçãodeumamentalidademais coerente, é
por issoque nestemomentode crise institucional e, sobretudo, moral e ética, somos chamados
à responsabilidade individual e coletiva.
Todo cidadão tema oportunidade de influenciar demodo significativo no coletivo, ajudando na
transformação da sociedade e do Brasil, influenciando para que a ordem social seja fundada na
justiça e na solidariedade, notadamente ao escolher o justo para governar, dando vida e viven-
ciandooensinamentobíblico, portanto,milenar, expressoemProvérbios 29:2quediz: “quando
o justo governa o povo se alegra”.
Comcoerência filosófica e políticaRousseau afirmouque “opovo é soberano e que a soberania
é a superação do estado de fraqueza, guiada pela razão humana”. Assim, é o cidadão, cada ci-
dadão, quem temo dever e o poder de coibir a ação daqueles que, ao representá-lo, macula os
bons costumes, as leis e a representação que lhe foi outorgada.
O bom trato da coisa pública, o bem comum, é o mote que deve orientar a atuação daqueles
que exercemqualquermunus público, e essa representaçãodeve ser exercidapor pessoas que,
emqualquer situação, atuemdentro dos princípios da ética e damoral.
Nessas circunstâncias e parafraseando Ruy Barbosa é de lembrar “que nos momentos de crise
eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraterni-
dade pela tolerância. Eu não subestimo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo”.
Essa reflexãoprecisa ser feitaparapropiciar que cada cidadão, ao fazer oexameda suaatuação,
exerça sua consciência e açãopolítica comresponsabilidade. Assim, que cada qual possa refletir
e, sobretudo, agir comcoerênciamoral e ética, exercendo sua cidadania emprol da construção
de uma sociedademais justa e perfeita.
Por Paulo Eduardo de Barros Fonseca,
advogado
Foto: Divulgação
1...,40-41,42-43,44-45,46-47,48-49,50-51,52-53,54-55,56-57,58-59 62-63,64-65,66-67,68-69,70-71,72-73,74-75,76-77,78-79,80-81,...
Powered by FlippingBook