ARTIGO
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Existe privacidade na
internet?
H
á um princípio na área da segurança militar
que diz: o ataque está sempre à frente da de-
fesa. Em termos práticos, o avião de guerra
com a melhor blindagem pode resistir à artilharia an-
tiaérea, mas não permanecerá no ar se o inimigo ti-
ver a melhor arma. Em outras palavras, enquanto se
prepara uma proteção contra a arma mais poderosa
atualmente, o desenvolvimento bélico já terá dado
um passo à frente e, contra o mais novo ataque, a
defesa estará despreparada. Assim, o ataque será sempre mais forte do que a defesa.
Esse princípio vale também para a segurança digital, a segurança na internet. Na verdade,
o princípio da segurança na internet é: ‘se querem uma informação sobre você, e você
está conectado à internet, vão conseguir essa informação’.
A questão é: quantas pessoas estão preocupadas em saber alguma coisa sobre você, so-
bre a sua vida?
Um usuário comum da internet —eu e possivelmente você, por exemplo—, mesmo com
cuidados de navegação e precauções básicas esperadas, não está livre de ter invadida
aquilo que considera sua privacidade on-line. Um hacker conseguiria burlar a segurança
desse usuário e ter acesso a contas de serviços on-line se tivesse interesse. Basta lembrar
de autoridades que tiveram contas ou dispositivos invadidos, ou de personalidades cujas
fotografias íntimas foram acessadas e publicadas sem autorização.
Não importa o grau de confidencialidade de uma informação, o ataque está sempre um
passo — pelo menos um passo — à frente da defesa.
Na divulgação das conversas entre o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol,
por exemplo, foi mencionado o aplicativo de mensagens utilizado. Esse aplicativo utiliza
comunicação criptografada, o que o torna relativamente seguro. Ainda que não tenha
havido nenhuma falha de segurança no aplicativo que permitisse acesso ao conteúdo por
terceiros (hackers), as informações podem ter sido divulgadas por algum dos envolvidos
nas conversas. Mesmo que mensagens transmitidas on-line fossem literalmente impos-
síveis de serem interceptadas e decifradas (o que não são), se o inimigo estiver na linha,