Revista Ações Legais - page 47

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Por Cicero Urban, médico oncologista,
professor de Bioética e de Metologia
Científica e vice-presidente do Instituto
Ciência e Fé em Curitiba
dor parou, então, no primeiro andar e – surpresa – havia uma maca com um paciente que
precisava ir para a UTI e que não teve como entrar por falta de espaço! Ultrapassar os
limites de velocidade, estacionar em local exclusivo para idosos, não devolver o troco,
pedir atestados falsos, não dar recibos, colar na prova... Afinal, quem não tem pecados
que atire a primeira pedra!
Claro, todos esses “pecadilhos” cotidianos não estão presentes apenas no Brasil. Mas
aqui temos um tribunal de consciência que talvez seja menos rígido que em outras so-
ciedades. As razões para isso podem estar na nossa colonização predatória ou na baixa
autoestima crônica do brasileiro, que sempre acha que o que vem de fora é melhor? Pre-
cisaríamos, assim, de uma forma de compensação? Darwin ou Freud podem explicar isso?
As nossas reconhecidas virtudes de tolerância com as diferenças, receptividade e alegria
nos fizeram menos combativos também com aquilo que está errado? Estou exagerando?
Sendo ingênuo? Então vamos lá...
Em um jantar em uma casa de amigos, um desconhecido nos diz que está com dificul-
dades, porque agora está tendo de dar recibos. Antes era mais fácil. Algo corriqueiro.
Corriqueiro? Morei durante anos na Itália. Na Itália da Máfia e da Operação Mãos Limpas!
E nunca escutei isso por lá. Os italianos queixavam-se, sim, de ter de pagar muitos impos-
tos, mas colocarem abertamente formas de não os pagarem, de burlar as regras, isso eu
sinceramente não vi. Se buzinarmos no trânsito para alguém que está errado, qual é a sua
reação? Na maioria das vezes, responder com uma agressão verbal (ou mesmo física!).
Não quero com isso eximir a culpa do PT ou do seu macunaíma. E de tantos outros em
todos os outros partidos. Eles são o fruto podre de uma sociedade que tolera muito as
corrupções das pequenas coisas e que hoje se vê atônita, envergonhada e indignada com
as grandes corrupções que hoje também estão no nosso cotidiano. Elas afetam nossa au-
toestima e comprometem a esperança de um país melhor. Raul Seixas, em um dos seus
momentos de genialidade, dizia que quem não tem presente se conforma com o futuro.
As novas gerações podem mudar isso. Aos meus alunos eu sempre digo que reduzam sua
tolerância com a corrupção das pequenas coisas. A banalidade do mal começa com elas.
Macunaíma e sua criatura, mais cedo ou mais tarde, se vão. Deixarão, infelizmente, um dos
capítulos mais tristes e vergonhosos da história republicana brasileira. Mas a história tem o
mau hábito de se repetir onde não se aprende com ela. Afinal, a grande mudança é moral!
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