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ARTIGO
A corrupção
das pequenas coisas
E
sta crise sem precedentes no Brasil é a mãe
de todas elas. Isso nos leva a refletir se nós,
brasileiros, somos mais corruptos ou mais to-
lerantes com a corrupção que outras nacionalida-
des. Ou seja, como explicar o drama de termos che-
gado até este extremo em que uma parcela muito
importante da classe política e do empresariado
brasileiro está envolvida?
Em primeiro lugar, seria ingênuo imaginarmos que
a corrupção só existe por aqui. Ela está presente
em todos os países do globo. Em todos, e sem ex-
ceção. Também não acho que o brasileiro seja mais
corrupto que o americano, o alemão ou o japonês.
Dito isso, o que temos aqui – e que talvez nos dife-
rencie dos outros – é aquilo que eu chamo de “cor-
rupção das pequenas coisas”. Ou seja, são atos
menores e deliberados de corrupção presentes no
nosso cotidiano, e que fogem do nosso tribunal de
consciência. São atos cuja percepção de dano em
consequência deles é mínima ou inexistente. Di-
zem que, se nós agíssemos como se estivéssemos
constantemente sendo observados, eles deixariam
de existir. Talvez por isso o debate ético, no início,
tenha sido mais desenvolvido no âmbito religioso,
com um Deus onipresente e vigilante sobre nós.
Eu sou médico. Dia desses, entrei no elevador de
serviço de um hospital em Curitiba. Fiquei surpreso
ao perceber que entraram no mesmo elevador de
serviço cinco pessoas de uma mesma família que
tinham ido visitar um paciente internado. O eleva-
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