Revista Ações Legais - page 86-87

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passa de sonho: pois não sei cozinhar!
Claro que muita gente me aconselhou a frequentar uma escola de culinária; mas sem-
pre alego que não tenho tempo disponível e que só gosto de ver aqueles chapelões de
Mestre Cuca na cabeça dos outros. Minha mulher também me provoca e quer ensinar,
mas sempre alego que estou indisposto.
Todavia nunca perco um bom programa de culinária na televisão, principalmente quan-
do os apresentadores percorrem o mundo para saborear pratos das mais diversas co-
zinhas. E até quando fazem o preparo da comida. Eu sinto o aroma no ar e gosto de
imaginar o sabor do bacon em minha boca.
Só que tudo não passa de devaneio, pois não sei cozinhar. Se já tentei pilotar um fo-
gão? Nunca! E por isso todos aqui em casa duvidam que na minha adolescência eu
tenha sido escoteiro, mas felizmente tenho fotografias de uniforme e chapéu de abas
largas para provar.
Eu era ótimo para comer a comida que os outros escoteiros faziam: miojo com cachorro
quente, tomate e Qsuco. E daquela época só aprendi fazer ovo no espeto que infeliz-
mente não sei mais fazer porque perdi a técnica. Era um prato muito difícil de fazer e
elaborar por ser demasiadamente exótico.
E quando minha mulher não está em casa e eu sinto fome eu não me aperto, pois sei
como poucos colocar leite gelado no copo, abrir um pacote de bolachas e solucionar o
“problema”.
Só, por favor, não me julguem pela minha incompetência culinária, por favor eu peço
encarecidamente que não seja mal interpretado por isso e nem tripudiado. Quero que
você lembre que sou um inabilitado do fogão, um pária que sonha apenas em comer,
um sacerdote que abomina a penitência.
Encareço, por isso, que reconsiderem minha situação e quando prepararem um sucu-
lento churrasco ou qualquer outra refeição com frutos do mar que nunca se esqueçam
de me convidar para comer porque só não sei cozinhar, mas sou ótimo garfo para com-
partilhar de uma ótima mesa de boas comidas...
“A frustração humana pode levar o homem à tumba. Como deve ser prazeroso saber
fazer uma comida saborosa. E pensar que tem gente inabilitada para dirigir um fogão.
São os párias da cozinha, sempre dispostos a comer e elogiar. Se você é um ungido que
sabe cozinhar bem, convide um pobre pária para comer porque só ele sabe massagear
o seu ego.”
FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
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Por Edson Vidal
A desgraça de não saber cozinhar
N
ão sei se é verdade absoluta dizer que todo indivíduo tem pelo menos uma frus-
tração na vida. Eu confesso que tenho varias: nunca soube empinar raia; não sei
afinar meu violão; não consigo correr; nunca consegui jogar pião; não entendo
nada de mandarim e a maior de todas: não sei cozinhar!
Esta última eu considero como dar um nó em um pingo d’água, pois é uma arte milenar
das mais difíceis. Não sei se é por inaptidão ou por comodismo, pois casei com uma ex-
celente cozinheira. Eu tento me convencer que por ser teórico em excesso não tenho
pendores para atividades práticas, mas sei que é um argumento sem nenhum nexo.
Tenho um amigo chinês, o Aldo, que se gaba pelas comidas que faz, principalmente
quando elabora comida alemã como o tradicional joelho de porco que tem um nome
difícil de escrever. Na sua casa nas margens do Barigui ele faz comida de todas as nacio-
nalidades e todas elas saborosas.
E como todo bom chinês é calmo, educado e não aceita elogios. Ah! Se fosse eu, eu
jamais pararia de perguntar para quem estivesse comendo a comida que preparei “se
está gostoso!” E sempre estaria de ouvidos abertos para saborear os elogios. Mas não
FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
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