Revista Ações Legais - page 35

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Essa pressão social antecipa os casamen-
tos. Por isso, grande parte das uniões for-
mais ou informais acontece depois de um
período curto de relacionamento amoroso
- de um mês a um ano. Entre os participan-
tes do estudo, apenas um casal namorava
havia quatro anos quando se casou. Em ge-
ral, as meninas têm as primeiras relações
afetivo-sexuais com os futuros maridos ou
companheiros.
“Acreditamos que as questões mais evi-
denciadas no estudo - gênero e sexualida-
de - parecem abranger diferentes públicos
e contextos, sendo difícil delimitar um gru-
po ou local. Por outro lado, é possível que
haja pontos de concentração, a depender
das características sociais, econômicas e
culturais de determinados locais e grupos
sociais e do nível de investimento público
(ou a ausência dele) ali realizados”, afirma
Daniella Rocha Magalhães, coordenadora técnica da pesquisa. Segundo ela, agentes pú-
blicos de Codó, no Maranhão, apontaram que pode haver maior incidência de casamen-
tos infantis em comunidades rurais e tradicionais, como as quilombolas, na cidade.
As consequências mais diretas do casamento infantil são a gravidez precoce, o abando-
no escolar e a perpetuação do ciclo de dominação e reprodução das desigualdades de
gênero. As meninas sofrem com a intensificação do trabalho doméstico e com a entrada
precária ou tardia no mercado de trabalho - já que a falta de profissionalização geralmen-
te impede essa chegada ao mercado formal. Outras consequências são a violência do-
méstica, o despreparo emocional e psíquico, a limitação dos projetos de vida, a perda de
liberdade e mobilidade.
O atraso e o abandono escolar foram superiores na amostra da pesquisa no Maranhão,
tanto para meninas e mulheres quanto para homens casados. Das sete meninas casadas
entrevistadas em Codó, apenas uma continuava estudando. Em alguns casos, a evasão
escolar ocorreu até antes do casamento e não como consequência dele. A combinação
de gravidez, casamento/união forçada e serviço doméstico acaba sendo um motivador
para a baixa escolaridade das meninas e mulheres da pesquisa.
Cynthia Betti, diretora-executiva da Plan
International Brasil
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