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encarcerado, a afirmação da vida digna segundo o amor cristão. Uma intelectual pura, rigorosa-
mente ética, mas, sobretudo, soberanamente verdadeira, porque acredita na pessoa humana,
luta intransigentemente para defender suas convicções, conduz-se determinadamente na co-
erência de seus ideais, porquanto sabe mais que ninguém, como costuma dizer poeticamente
por seus exemplos, que só o ideal marmoriza o papel, eterniza a crença, faz da pena o cinzel de
purificação do que pensa e escreve em seu generoso coração. É, com efeito, uma mulher dife-
renciada, uma esposa exemplar, uma mãe extremosa, uma amiga sem igual, modelo, exemplo
e padrão de humanidade.
De fato, comCarl Jung, quemolha para dentro sonha, quemolha para fora desperta. E é desse
despertar que se temque falar nestahoraemque seLhe rendeesta justahonraria. De suaparte,
assim, aos poucos aprendendo coma cartilha da vida, no trecho que toma emprestado de Cora
Coralina, se esforça pra sermelhor a cada dia, pois bondade tambémse aprende, mostrando-se
cada vez mais virtuosa ao ajudar os que querem segui-la na missão de oferecer o melhor de si
na declinação e na perspectiva da alteridade. Penso, a conhecendo bem, no circuito de um juízo
lógico, oquantoháde verdadenisso. Nempor issoprofessou só certezas, e aí está seumaior va-
lor. De fato, como ela, continuamos tendomuitas dúvidas, como todos têm. Afinal, para alguns
(JorgeLuisBorges), adúvidaéumdos nomes da inteligência.Mas, sepudesseprofessar apenas
uma certeza, a partir do que Mara inspira, diria que ela se concentra na força maior do amor, e
acredito, comEinstein, oarquitetoda físicamoderna, que sócomele se conquistaomundo sem
risco de perdê-lo. É ele – amor - o garante da preservação desse mundo ético de que tanto so-
nhamos e que, definitivamente, não está além da ilha da felicidade que tanto buscamos. Prova
disso nos dão a epopeia da vida pública e o exemplo de postura ética da homenageada.
OPequenoPríncipe, aonos ensinar queagente sóconhecebemas coisas que cativou, nosmos-
tra que só se vê bem como coração, pois o essencial é invisível aos olhos. E, assim, sugere que,
se no coração houver ódio e incompreensão, a tendência é de enxergarmos as pessoas, omun-
do e as coisas sob esse prisma, mas se, ao contrário, guiar-se ele pelo amor, é assimque bemen-
xergaremos a vida. O convite que a trajetória deMara Catarina nos faz é para prosseguirmos na
tarefaquenos sugereoalertadoPapa jesuíta, nesta condiçãooprimeiro latino-americanoeque
tanto nos encanta por sua bondade, contido na advertência de que nossa vida é umcaminho e,
quando paramos, não vamos para frente, dando sentido à exortação de que devemos sempre
avançar, e comele uma antiga saudação franciscana: paz e bem.
Feliz a iniciativa de homenageá-la. Honra-me, sobremodo, delamodestamente participar.
Por Gilberto Giacoia, procurador de
Justiça do Estado do Paraná
Homenagem a Mara
Catarina Leite
E
sta é a forma como a comunidade jurídica recorre
à palavra, como via comunicativa de seu sentir aca-
dêmico, embora a enorme dificuldade de encontrá-
-la mais apropriadamente, por ocasião da justa homena-
gemaMaraCatarinaMesquita Lopes Leite, nomomento
em que, meritamente, recebe da Pasta Estadual de Se-
gurança Pública, por seu Departamento Penitenciário, o
reconhecimento por ter sido a primeira e única mulher a
chefiar o sistema penitenciário da terra das araucárias.
E isso pela enorme distância do significado da palavra
com seu significante, posto ser extraordinária a dimen-
são deste pela notável trajetória pública de alguém, como MARA, de quem se tem a quase im-
possibilidade de contar o que, como ser individual impregnado daqueles impulsos do id freudia-
no, numuniverso psicológico onde reina a lembrança de outro tempo emque seria impensável
a uma mulher trilhar caminho tão glorioso, seja na vida pessoal, familiar, social, funcional ou
política. Busco, pois, tomar de empréstimo algumas palavras, às quais peço que me ajude, ge-
nerosamente, a recordar essa linda história e que ainda se escreve.
E o faço para que, talvez com elas, de repente, ainda possa encontrar um caminho, uma dire-
ção. Como diz o poeta espanhol AntonioMachado ao caminhante, “caminho não existe, se faz
caminho ao andar”, ou em sua língua natal, caminante, son tus huellas, el camino y nada más;
caminante, non hay camino, se hace camino al andar.
E foi assim que experimentou, vinda da bela Niterói para participar do primeiro concurso para
Defensor Público, laureada com a destacada aprovação, nesse périplo, momentos decisivos
para prosseguir, quando, ainda na região de Maringá, conheceu o grande amor de sua vida, o
então Juiz de Direito daquela Comarca, Marco Antônio De Moraes Leite, depois ilustrado de-
sembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, comquem, após enlace conjugal, viveu umeter-
noe lindo romance, frutodoqual, veioanos brindar Alaor Carlos Lopes Leite, hoje jovem jurista,
discípulo doMestre Roxin, da Escola Alemã, cuja tese de doutorado foi a pouco premiada e que
tanto orgulho nos traz por projetar o Paraná para além-fronteiras das terras tupiniquins.
E o resultado aí está, Mara Catarina, a estudiosa do direito, a ciosa procuradora estatal, a qualifi-
cada gestora dos negócios públicos da Secretaria de Estadoda Justiça, a amante da boa causa a
introduzir na matriz do sistema carcerário de então, marcado pelo punitivismo homofóbico do
Procurador Gilberto Giacoia e Maria
Catarina Leite
Foto: Divulgação