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samento de quem está nessa posição de decisão e quer manter ou conquistar o poder a
todo custo.
Disso surge o problema que levou à Odebrecht a enfrentar toda essa situação. Visão so-
mada a conduta e cultura alinhadas a esses valores negativos, geraram a corrupção. En-
tende-se corrupção como um ato de deterioração (do nome da empresa), de modificação
(do fim ultimo da empresa que era ser uma construtora) e adulteração (quando se sai dos
interesses maiores da empresa para se atender aos interesses de um grupo menor de
pessoas).
Isso nos ajuda a entender e a elucidar que não foi a empresa Odebrecht que foi corrup-
ta. Há uma gama de funcionários e até de ações positivas que compõem a empresa, que
nada tinham a ver com isso. A corrupção vem do grupo de “governantes”, representan-
tes ou líderes daquela específica gestão da empresa. A empresa é muito mais do que eles;
apesar de que foram eles que conduziram a atitudes corruptas. Eles corromperam o pro-
pósito da organização para um fim particular, através de, por exemplo, o uso de suborno
ativo ou passivo.
Por fim, analisando todos esses fatores, chegamos a conclusão de como prevenir situa-
ções semelhantes: respeitando o fim último da empresa. Como organização ela tem res-
ponsabilidades como continuar existindo a curto, médio e longo prazo. Ela deve trazer
lucro, exercer sua função proposta, manter-se contínua. Para que isso seja feito é preciso
que haja na empresa uma cultura que considera fomentar o diálogo da ética em nível de
entendimento e, posteriormente, esclarecimento. Esse é o ideal para que se mantenha
a dignidade humana, que é o propósito final da ética como já dizia o filósofo Immanuel
Kant. A dignidade constrói uma sociedade saudável e quando as empresas são guiadas
por essa máxima elas se mantem livres de corrupção, respeitando a moral antes da lei,
evitando que até mesmo essa seja quebrada.
Por Samuel Sabino, professor, filósofo e
mestre em bioética
ARTIGO