ARTIGO
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“Nós, homens, desde pequenos somos pressionados a fazer sexo. Eu perdi a virgindade
com 14 anos porque um tio meu me obrigou dizendo que se eu não fizesse ia passar o
resto da vida me chamando de gay. Se fosse por mim, eu teria esperado, não teria feito
pelo tempo de ninguém, teria esperado meu tempo.”
O segundo, de uma jovem de 20 anos, que se casou aos 10 com ummarido de 19. Na épo-
ca da pesquisa, ela estava gravida de trigêmeos.
“Eu não vou mentir a você, eu dei muita sorte, viu? Eu engravidei com 11, tive com 12, en-
gravidei com 12, tive com 13 e assim, o pai das minhas filhas está comigo até hoje. Ainda
vem três meninos para terminar de contemplar. Se fosse outro homem, abandonava e
largava. Ele assumiu a mim e as minhas filhas”.
Esses dois relatos nos fazem perceber a profundidade das questões que estão em
torno do casamento infantil e como as relações se constroem e afetam a vida das
pessoas, especialmente das meninas. Temos que continuar esse esforço de reflexão
sobre o casamento infantil, pois estamos convencidos de que só seremos capazes de
enfrentar de frente esse problema quanto mais compreendermos suas causas e con-
sequências e dar respostas eficientes desde o campo de atuação e de poder de cada
uma e cada um de nós.
Por Cynthia Betti é diretora-executiva
da Plan International Brasil, pedagoga,
especialização pela Universidad
de Alcalá de Henares, Advanced
Management Program pelo IESE
Business School/Universidad de Navarra