Revista Ações Legais - page 28-29

ARTIGO
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Fake news: da mídia à
justiça (e vice-versa)
A
s fake news estão ultrapassando os prejuízos
financeiros e de credibilidade nas empresas
e invadindo o judiciário com dezenas de pro-
cessos. E não são somente pedidos de indenizações
por danos morais ou materiais, mas também de pes-
soas e empresas que estão tendo que se defender de
coisas que foram acusadas inveridicamente. 
Notícias falsas são, muitas vezes, plantadas por con-
correntes “rejeitados” pelo mercado. Eles encomen-
dam textos bem escritos, porém com dados falsos,
provenientes de “associações e órgãos” com nomes
que inspiram credibilidade, mas que não existem e,
portanto, são impossíveis de serem rastreados. Tam-
bém adicionam entrevistas de “especialistas”, sejam
pessoas que aceitam propinas para isso ou colocam
nomes de “profissionais” que sequer existem. Às ve-
zes, até providenciam documentos falsos e manipulados, para “embasar” a acusação.
O próximo passo é conseguir disseminar as fake news na mídia. Jornalistas e veículos sérios
não divulgam nada que não consigam checar. A tarefa cabe a pessoas e canais que, ou não
costumam verificar a informação, ou até aceitam vantagens - inclusive pecuniárias - para as-
sumir o risco de divulgar notícias falsas. Eles agem protegidos pela liberdade de imprensa.
Mas há uma enorme distorção do que é liberdade de imprensa e responsabilidade por parte
dessas pessoas. As mentiras são grotescas. É um problema enorme que as empresas estão
enfrentando.
Vou contar uma situação que aconteceu com um dos meus clientes: a Tecnobank, empre-
sa nacional que desenvolve soluções que geram segurança aos processos eletrônicos dos
segmentos financeiro e de veículos. Por ser líder de mercado em diversas praças e atuar
em um segmento no qual a credibilidade é determinante, a Tecnobank tem sido atacada
pela concorrência, que utiliza essa estratégia de "plantar" fake news como uma maneira de
manchar a reputação da empresa.
Um periódico online da Paraíba e outro do Paraná publicaram fake news como “denúncia”.
Elas se espalharamcomo rastilho de pólvora na internet, indiscriminadamente copiadas por
outras mídias de baixa credibilidade, sem que fossem verificadas e sem que os “acusados”
fossem ouvidos pela reportagem. 
Depois que os responsáveis pelas fake news conseguem plantar as informações mal-inten-
cionadas na mídia, eles reúnem o material publicado (clipping) e passam a acionar diver-
sos órgãos públicos para que investiguem a suposta fraude. Acionam Tribunal de Contas,
Ministério Público, Vara de Fazenda Pública etc. Eles chegam a estes órgãos sempre com
o mesmo assunto e repetindo os argumentos. No caso Tecnobank, os concorrentes per-
deram em todas as instâncias, mas nunca desistiram. Eles seguem procurando o próximo
órgão público e insistem na suposta denúncia. Acontece que essas "notícias" que acusam a
empresa de fraudes no Detran de São Paulo foram apresentadas a diversos órgãos oficiais,
até que oMinistério Público de São Paulo, diante das publicações de supostas "denúncias",
aceitou abrir investigação acerca da suposta fraude.
Independentemente se é certo ou errado, verdade ou mentira, a partir do momento em
que alguém pede a abertura de investigação com supostas "acusações oficiais da impren-
sa" ao Ministério Público, o simples fato do órgão aceitar abrir essa investigação já pode vi-
rar notícia em veículos de grande repercussão e credibilidade. Afinal, trata-se de uma sólida
empresa, de grande reputação, em um mercado que movimenta milhões de reais mensal-
mente, que está sendo acusada de uma fraude de R$ 500 milhões junto a um órgão oficial.
Ou seja, mesmo que a acusação seja baseada emmentiras, a manchete "Ministério Público
de São Paulo investiga fraude de R$ 500 milhões da Tecnobank" não deixa de ser verdade.
E o que nasceu de uma fake news na imprensa marrom, chega à primeira página do Goo-
gle. A perda de clientes é apenas um dos prejuízos financeiros que as empresas enfrentam
quando viram alvo de fake news. Organizações com denúncias – mesmo que inverídicas
– têm a reputação manchada. E a reputação corporativa é hoje o principal ativo intangível
de uma marca, que chega a representar 84% do valor de mercado da empresa, atualmente,
segundo o S&P 500. Clientes, investidores e até mesmo fornecedores não desejam vincular
o nome a uma empresa com denúncias na internet. Isso gera perda de receita, queda no
faturamento, demissões e redução nos investimentos - o que impacta a economia nacional.
Felizmente, o MP e demais órgãos investigam e descobrem que as denúncias são infunda-
das, arquivando os processos. Porém, e o que já foi dito?
Por Mário Rosa, especialista em gestão
de crises, autor brasileiro pioneiro e com
o maior número de obras sobre imagem e
reputação
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