Revista Ações Legais - page 96-97

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sociais, embora sejamais difícil coibir a circulaçãode notícias falsas, oPoder Judiciário, como
guardião das liberdades, tem tomado medidas para reprimir, seja em âmbito civil ou elei-
toral, seja em âmbito criminal, condutas que maculem a sagrada liberdade de expressão.
Todos nós como cidadãos devemos adotar uma postura rigorosa ao recebermos e, princi-
palmente, ao retransmitirmos as notícias em circulação", afirmou o conselheiro Schiefler.
Democracia ameaçada
Fake news não é uma invenção contemporânea, mas uma praga de nome estrangeiro ("no-
tícias falsas", em inglês) que pode causar dano a algomaior, como a democracia, namedida
em que a veiculação de notícias imprecisas, descontextualizadas ou simplesmente inverídi-
cas tem formado opinião e afetado o debate político.
Quem lê o quê
Tanta influência se deve à transição nos hábitos de consumo de notícia, dos meios de co-
municação de massa para a internet, e não só nos países desenvolvidos. A predominância
da internet e das redes sociais na vida social tem influenciado, direta e indiretamente,
quem lê o quê.
Como se lê
No Brasil, 68% da população já acessam a internet, de acordo com o Relatório de Notícias
Digitais 2017, da Universidade de Oxford e do Instituto Reuters. Para 90% da população bra-
sileira, a principal fonte das notícias que consomem é a internet (redes sociais, inclusive),
mas 78% ainda se vale do telejornalismo.
Relatório de Notícias Digitais 2017
De acordo com a advogada Flávia Lefèvre, o monopólio das plataformas onde se consome
notícia atualmente também explica a relevância do problema das fake news. “As platafor-
mas cresceram muito rápido. O Google é de 1995 e o Facebook, de 2004. Hoje alcançaram
abrangência absurda, a ponto de não terem concorrência. Assim, eles atuam em escala de
monopólio no planeta” diz a especialista. Segundo o Relatório de Notícias Digitais 2017, o
Facebook é a rede social preferida para acessar notícia no Brasil – 57% dos entrevistados
disseram recorrer a ele e 46% se utilizam do WhasApp.
Principais Redes Sociais acessadas em busca de notícias
Consumir notícia no Facebook ou noWhatsApp é um hábito compartilhado pelas classes C,
D e E – grupo ao qual pertencem61 milhões dos 73milhões de famílias brasileiras, de acordo
com a Consultoria Tendências, segundo dados do jornal Valor Econômico de novembro de
2017. De acordo com a especialista do Comitê Gestor da Internet, como esse enorme con-
tingente populacional consome pacotes de dados pré-contratados, que limitam o acesso à
internet, durante boa parte do mês os clientes brasileiros só podem acessar as duas redes
sociais que figuram como campeãs em consumo de notícia.
Filtro
Uma ferramenta do Facebook usada por milhares de empresas de comunicação restringe
ainda mais o filtro de notícias que cada usuário poderá ler em seu feed de notícias. O instant
article acessa o acervo de notícias de um veículo de comunicação, seleciona apenas aquelas
que se adequam ao perfil de cada leitor, resume e dispõe na linha do tempo de milhões de
cidadãos os conteúdos noticiosos – texto, foto e vídeos – em formato otimizado para leitu-
ra em smartphones.
“Na prática, a maior parte das pessoas que acessam notícia pelo celular só lê os resumos,
não raramente editados pelo Facebook”, disse a advogada Lefèvre. Em 8 de fevereiro úl-
timo, o jornal Folha de São Paulo anunciou que deixaria de publicar notícias no Facebook
porque a estratégia da rede social facilitaria a distribuição emmassa de conteúdo delibera-
damente mentiroso.
Confusão
O afunilamento do noticiário lido por usuários do Facebook, customizado conforme o
interesse de cada internauta fragmenta ainda mais a noção de realidade na sociedade.
O efeito é notado principalmente na percepção das pessoas com dificuldades em distin-
MUNDO DA INTERNET
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