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SEMINÁRIO
Ministério Público
do Paraná debate a
violência de gênero
Q
uais são as causas e origens da violência contra a mulher no mundo de hoje? A pes-
quisadora Maria Cecília Minayo, socióloga, mestra em Antropologia Social e doutora
emSaúde Pública, procurou responder a essa pergunta emseminário realizado nesta
segunda-feira, 16 de março, no auditório do edifício-sede do MP-PR, com o título “Aspectos
práticos do enfrentamento à violência de gênero: causas e origens da violência contra a mu-
lher”.
Apresentando dados alarmantes sobre o número de mulheres que sofrem violência atual-
mente, Maria Cecília ressaltou que “a violência contra a mulher é estrutural na sociedade”.
A palestrante sustentou que “a violência tende a ser um movimento circular de repetição”,
uma vez que é perpetuado culturalmente pela transmissão da falsa ideia de inferioridade da
mulher. Isso se reflete nas atitudes dos agressores. A cultura patriarcal dominante reforça a
noção de posse do homem sobre a mulher, tornando “natural” aos olhos da sociedade a de-
sigualdade e mesmo a aceitação do jugo masculino por elas.
A pesquisadora apresentou algumas situações em que a supremacia do homem é socialmen-
te aceita: o masculino é visto como sujeito da sexualidade e o feminino como seu objeto; o
homem é ritualizado no lugar da ação, da decisão, da chefia da rede familiar, visto como si-
nônimo de provimento material, investido na posição de agente do poder. Tudo isso faz com
que pareça natural que amulher seja submissa e que o homema domine, pois essas ideias são
culturalmente enraizadas e transmitidas de geração em geração.
Maria Cecília destacou o absurdo de agressores maridos ou parceiros se defenderem alegan-
do haverem agredido suas companheiras somente depois de “não terem sido obedecidos”.
Ou seja, muitos agressores justificama própria violência como “ato corretivo”, como se tives-
semuma função disciplinar sobre as mulheres. Ademais, considerando-se “chefes de família”
frequentemente se sentem guardiões do comportamento das esposas ou companheiras e
filhas.
Citando Simone de Beauvoir, a pesquisadora lembrou que a cumplicidade entre homens e
mulheres na condição de subordinação feminina começa na família, na escola, nas histórias
infantis, nos ritos sociais, perpetuando-se assim social e culturalmente a posição de inferiori-
dade da mulher. Reconhecendo os vagarosos progressos na legislação em defesa da mulher
no Brasil, Maria Cecília alertou para a necessidade de uma mudança cultural, muito mais que
de legislação. Para ela, não é só a via do castigo que transformará a situação. O feminismo não
pode aproximar-se perigosamente apenas da mão punitiva do Estado, deve lutar por uma
mudança de mentalidade, sustentou.
Presenças
Oevento, que lotou o auditório, foi promovido peloNúcleo de Promoção da Igualdade de Gê-
nero (Nupige), do Centro de ApoioOperacional às Promotorias de Justiça de Proteção aos Di-
reitos Humanos do MP-PR, com o apoio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional
(CEAF). Ele integrou as ações doMP-PR alusivas aomês emque se celebra o Dia Internacional
da Mulher (8 de março).
Estiveram presentes ao seminário e compuseram a mesa, durante a cerimônia de abertura, o
procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia; o presidente do Tribunal de Justiça do Paraná,
desembargador Paulo Roberto Vasconcellos; o secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Hu-
manos do Paraná, Leonildo de Souza Grotta; a subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos
Jurídicos, Samia Saad Galotti Bonavides; o procurador de Justiça e coordenador do Centro de
Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos, Olympio
de Sá SottoMaior Neto; a coordenadora do Programa de Incentivo à Equidade de Gênero da
Itaipu Binacional, Maria Helena Guarezi; a presidente da Comissão de Estudos sobre Violên-
cia de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná (OAB-PR), Sandra Lia Leda
Bazzo Barwinski, e a historiadora Heliana Hemetério, da Rede deMulheres Negras, represen-
tando os movimentos sociais.
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