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SEMINÁRIO
Cármen Lúcia: Brasil ainda
é patrimonialista e machista
Fotos. José Cruz/Agência Brasil
Na Embaixada da França, Cármen Lúcia fala sobre a discriminação e o preconceito contra a
mulher
A
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de
Justiça(CNJ), ministra Cármen Lúcia, afirmou que o fato de ocupar a chefia de um
dos poderes da República não passa de um dado "circunstancial" num país cuja
sociedade permanece em grande medida "patrimonialista, machista e muito preconcei-
tuosa com a mulher".
As declarações foram dadas durante um seminário sobre as mulheres na Justiça, reali-
zado na Embaixada da França, em Brasília. Compunham a mesa a procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, e a advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça.
Cármen Lúcia respondeu a uma felicitação do embaixador da França, Michel Miraillet,
que destacou que o Brasil é um dos poucos países com mulheres ocupando quatro car-
gos de cúpula no Judiciário. Além das três que compunham a mesa, ele contou ainda a
presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz.
Cármen Lúcia ressaltou que a presença de mulheres na cúpula do Judiciário pouco teria
significado para além de uma coincidência histórica numa sociedade "que não se acostu-
mou que o nome autoridade não se declina, não tem sexo". Ela revelou já ter sido barra-
da, por exemplo, de entrar na casa de amigos por funcionários que esperavam por um
homem, jamais imaginando a possibilidade de que a presidente do Supremo fosse uma
mulher.
A ministra lembrou que a presença de mulheres na cúpula do Judiciário brasileiro não se
reflete nos números do Judiciário, que tem muito menos juízas e procuradoras mulheres
do que homens. Tampouco, disse, se reflete na representação política, ressaltando a bai-
xa presença feminina no Congresso.
Cármen Lúcia, Grace Mendonça e Raquel Dodge foram unânimes em destacar a impo-
sição de uma vida quase "monástica" às mulheres que almejem cargos de liderança. De
acordo com elas, há um constrangimento constante da sociedade brasileira para que a
mulher priorize as relações afetivas e a família, acima da própria realização pessoal, o que
não ocorre, nem de perto, em relação aos homens.
"O simples querer feminino é encarado como uma forma de ousadia", disse Grace Men-
donça. "Ainda que ocupando um cargo que tenha uma percepção de autoridade, ainda
somos vistas, sim, com estranheza".
Em sua fala, Cármen Lúcia fez questão de destacar que a face mais grave desse constran-
gimento social em relação à mulher se expressa no feminicídio."Continua havendo mu-
lheres mortas, e não apenas pelos companheiros , mortas por uma sociedade que não vê
que a mulher não é a causadora do feminicídio, que é um homicídio causado somente por
ela ser mulher", disse.
"patrimonialista, machista e muito
preconceituosa com a mulher"