Revista Ações Legais - page 76-77

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FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
Por Edson Vidal
Q
uem andou anos pelo interior, e enfrentou uma época de estradas de lama, bar-
ro e macadame, tem sempre histórias para contar. Se reunidas daria um acervo
considerável para o anedotário forense. Difícil quem não tenha sido protagonista
ou testemunha presencial do ocorrido. Ou por saber de "outiva".
Aliás, um dos vícios de linguagem é empregar o termo "outiva" grafado como "oitiva" no
sentido de "ouvir testemunha". O advogado requer: a "oitiva" das testemunhas adiante
arroladas; o promotor idem; e o juiz despacha: designo a data de 04/09/16, às 13h30, para
a oitiva das testemunhas de defesa.
Ora, outiva tem o sentido de "testemunha por ouvir dizer", ou seja, é a testemunha não
presencial e que soube do fato a ser elucidado, por ouvir de terceiro. No entanto, o vo-
cábulo passou a integrar a linguagem forense. Está consagrada. É a velha máxima: água
mole em pedra dura tanto bate até que fura!
Vamos ao anedotário. Na década de 1960, um dos mais destacados nome da magistratura
paranaense iniciou sua atividade judicante. Cioso de suas tarefas procurava sempre aten-
der com presteza os advogados e os jurisdicionados. Era comum o juiz atender em seu
gabinete pessoas da comunidade e seus mais diversos problemas.
Certa tarde o oficial de Justiça entrou no gabinete e informou que uma senhora de idade
queria contar um problema muito sério. O juiz, educadamente, mandou a mulher entrar.
Esta entrou no gabinete, chorando copiosamente e foi dizendo: Seo juiz, uma desgraça!
- O que aconteceu, senhora?
E a mulher não se fez de acanhada:
- Doutor, ganhei no jogo do bicho e o Zezinho "banqueiro" não quer pagar!
O magistrado ficou surpreso. A mulher continuou:
- Joguei no galo e deu galo na cabeça! O senhor tem que tomar uma atitude, não posso
ficar no prejuízo!
O juiz pensou um pouco e respondeu:
-Minha senhora, saia daqui e vá direto conversar com o Zezinho. Diga-lhe que a senhora
conversou com o juiz e ele mandou pagar a aposta imediatamente! Vá, vá rápido!
A mulher agradeceu e saiu do fórum como uma bala. E não voltou mais. O juiz até hoje
está em dúvida se a aposta foi paga ou alguém explicou à mulher que o jogo do bicho era
contravenção e que ela poderia ter sido presa. Dilema que perturba até hoje o desembar-
gador Antonio Domingos Ramina. Brincadeira! Escrevi só para dar um molho na história!
Um dos vícios de
linguagem é empregar o
termo "outiva" grafado
como "oitiva" no sentido
de "ouvir testemunha"
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