Revista Ações Legais - page 27

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Por Ricardo Pimentel é professor
e pesquisador do Programa de
Mestrado Profissional em Governança
e Sustentabilidade do ISAE – Escola de
Negócios, de Curitiba (PR).
coletiva. A aprendizagem individual continua sendo importante, mas o que conta agora é a
aprendizagemde grupo. A nossa vida é uma rede de atividades que são organizadas coletiva-
mente e nos ligam a outras pessoas por meio de objetos, artefatos e tecnologias, que nesse
contexto são mais do que isso, e que podemos chamar de arranjos sociomateriais.
Pense no que está fazendo agora. Lendo esse texto? Obrigado pela preferência, mas por mais
que você esteja atento ao texto, você está tambémparticipando de inúmeras outras atividades
que o liga a inúmeras outras pessoas. Levemos a conversa para omundo do trabalho. Para que
possamos atuar em equipe é necessário, dentre outros fatores, que as atividades que fazemos
tenham um sentido, um propósito e uma identidade. Saber o que fazer, como fazer e porque
fazer, mas não de forma isolada, e sim de forma interconectada e compartilhada. Baseado nas
ideias de TedSchatzki, umfilósofodaUniversidadedeKentucky, consideroquequandoumgru-
po consegue estabelecer coletivamente o sentido das suas atividades e a identidade do próprio
grupo, construiu o que chamamos de inteligibilidade das práticas do grupo.
Mas que diferença isso faz? Quando um grupo consegue construir esse sentido e essa identi-
dadeproduzumconhecimentoqueé coletivo, enão resultadodoprocessocognitivo individu-
al. Por isso essa construção só faz sentido para aquele grupo e para aquelas atividades. Além
disso essa inteligibilidade nãopode ser confundida comracionalidade; ela se refere aquiloque
é significativo para as pessoas fazerem, e não necessariamente o que é racional.
A isso chamamos aprendizagemdo grupo: a construção coletiva de sentido e identidade, que
permite ao grupo enriquecer sua experiência coletiva no sentido de aumentar sua capacida-
de em lidar com os problemas existentes, reformulá-los, bem como identificar novos. Esse
último aspecto é fundamental quando se pensa a questão da inovação, pois encontrar novas
soluções requer também a habilidade de identificar novos problemas.
Isso significa que os grupos não precisam de líderes? Ao contrário, nunca a liderança foi tão
importante. Um líder necessita compreender como o grupo constrói a inteligibilidade, e iden-
tificar seus principais elementos. Saber quemé quem, as competências e habilidades de cada
colaborador, como designar atividades e tarefas continua sendo importante, mas não é mais
suficiente: é preciso saber criar as condições para que a aprendizagem do grupo aconteça.
Isso impacta diretamente na formação e qualificação dos líderes. O conhecimento técnico
e instrumental também continua sendo importante, mas é preciso desenvolver a capacida-
de reflexiva, multidisciplinar, com visão ampla de uma situação e as relações com o mundo.
Também ganha importância a capacidade de compreender as relações no “microcosmo” da
equipe, os detalhes, as relações “próximas” que podem estar no mesmo espaço/tempo, ou
podem ocorrer à distância. A formação continuada (que em inglês é um termo mais expres-
sivo – lifelong learning) passa ainda por bons cursos de graduação e de especialização, mas
também por cursos que ampliem essa capacidade reflexiva, como mestrados e doutorados.
E você, conhece realmente o grupo ou os grupos emque atua? Está se qualificando para isso?
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