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FAZENDO O BEM
As experiências de advogados
doadores de medula óssea
A
judar a salvar a vida de uma pessoa
e a manter uma família unida. Foi
partindo destes princípios que o
advogado Luciano Lenart Copetti, de Gua-
rapuava, se cadastrou no Registro Nacional
de Doadores de Medula Óssea (Redome) e
teve o prazer de ser compatível com um re-
ceptor. Ele descreve o sentimento como o
de ganhar na Mega-Sena.
“A chance de compatibilidade é uma em um
milhão. E o sentimento ao descobrir que você vai ajudar a salvar a vida de uma pessoa e a
manter uma família unida, não tem preço. Você flutua. Dá prazer. É ummilagre na vida”.
O início de Luciano como doador de medula óssea foi quando ele decidiu fazer uma doação
de sangue. O cadastro no Redome ocorreu de maneira simultânea, no Hemocentro. É o Re-
dome que é responsável por cruzar dados ao redor de todo o Brasil e identificar doadores
e receptores que sejam compatíveis.
“Nós não sabemos quem receberá, se é homem, se é mulher, se é criança, se é idoso. Nada.
Mas mesmo não sabendo, a gente sabe que está fazendo o bem”.
A informação de que um possível receptor havia sido localizado veio em meados de 2018,
quando Luciano foi contatado por uma equipe do Redome para a confirmação de alguns
dados. “Depois desse contato inicial, foramnecessários novos exames para comprovar que
a minha medula realmente era compatível. Em um primeiro momento, a gente fica apreen-
sivo para saber como funciona a doação, para saber como é o procedimento e tudo mais.
Mas logo você é tomado por uma felicidade ao saber que pode salvar uma vida, indepen-
dente de quem seja”.
Da doação a uma grande amizade
Outra história de compatibilidade envolvendo advogado foi de a de Fabiano Nakamoto,
o primeiro doador de medula óssea não aparentado de Londrina. Cadastrado no Regis-
tro Nacional de Doadores de Medula Óssea
(Redome), aos 19 anos, por meio de trote
solidário de calouros de curso de Direito,
em 2004, recebeu a notícia de compatibili-
dade em 2006. A receptora foi Mirna Ayu-
mi Kajiyama, de 15 anos, de São Paulo. O
transplante de medula óssea foi realizado
no Hospital de Clínicas, em Curitiba, no dia
31 de março. “Data que também marca o
nascimento de uma grande amizade entre
as famílias que dura até hoje”, observa.
Para Nakamoto, atual tesoureiro da Subseção da OAB Londrina, foi uma surpresa na épo-
ca. “As etnias influenciam na compatibilidade. No caso da minha receptora, as chances
de nós nos encontrarmos eram de 1 em 1 milhão, bem acima da média, que é de 1 em 100
mil”. O advogado destaca que quando alguém se cadastra como doador não significa que
efetivamente irá doar medula óssea. Mas reforça que “a esperança, no entanto, é instan-
taneamente compartilhada pelas pessoas que esperam pelo transplante”.
De acordo com ele, para as famílias que aguardam um doador no banco de dados, cada
novo cadastro é uma injeção de ânimo para continuar a batalha. “Daí a importância do
cadastro de amostras de sangue no Redome. Quanto maior a quantidade de doadores
crescem as chances de encontrar doador compatível”.
Nakamoto sublinha que quem se inscreve no Redome se arrisca a ser a chance de um
em cem mil, ou em um milhão, de outra pessoa. “Tenho certeza de que esse é um gesto
de generosidade que todo ser humano possui competência e habilidade para realizar. A
recompensa é ter feito a escolha certa”, coloca. “Efetivamente aprendi a receber o agra-
decimento. A família de Mirna me agradece até agora, depois de tantos anos. Carrego
comigo a experiência de receber a gratidão”, acentua.
A batalha de Mirna começou aos 13 anos de idade. Após o transplante de medula em
2006, a receptora retomou os estudos e retornou ao convívio com familiares e amigos.
Ingressou na faculdade e defendeu a doação de órgãos, promovendo campanhas. Mais
tarde, com novo problema de saúde, entrou para a lista de transplante de pulmão, crian-
do a comunidade “Meu Amigo O2”. Foi transplantada em 2016, mas, infelizmente, devido
a complicações, faleceu aos 25 anos. “Gosto de pensar que a doação de medula óssea fez
Mirna viver muito feliz por mais 10 anos. Indissociavelmente já nascemos fazendo parte
do mundo, e que são nossas escolhas e ações que fazem o mundo parte de nós”, depõe
Nakamoto.
Advogado Luciano Lenart Copetti, de
Guarapuava
Advogado Fabiano Nakamoto, de Londrina,
com a família da receptora