Revista Ações Legais - page 58-59

ARTIGO
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Trate a filantropia como
trata seus investimentos
H
á algum tempo, participei do Congresso Brasi-
leiro de Governança Corporativa, evento pro-
movido anualmente pelo Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa (IBGC), em que se discu-
tem as melhores práticas de gestão adotadas pelas
empresas.
Um dos momentos mais esperados do evento era a
palestra de Elie Horn, fundador da Cyrela, uma das
maiores incorporadoras imobiliárias do país, com
ações negociadas em Bolsa. O título da palestra era
“Reflexão sobre a responsabilidade do empresário”.
Enquanto muitos esperavam que o entrevistado de-
dicasse o tempo que lhe fora reservado no evento
para tratar dos cuidados que o empresário deve ter
nagestãodo seunegócio, durante aproximadamente
uma hora, o palestrante falou sobre fazer o bem. Fa-
zer o bem, disse ele, não importando qual fosse o
gesto específico ou mesmo a intenção do agente ao
praticá-lo. Só interessa que seja o bem.
Entre os diversos conselhos, dois, em especial, me
marcaram.
O primeiro deles foi: “faça o bem por meio de ações
que toquem o seu coração”. Isto porque é muito
mais fácil manter a dedicação a uma causa quando o
agente guarda algum nível de identificação com ela
ou, de alguma maneira (que muitas vezes não con-
seguimos explicar, mas sentimos), ela toca especial-
mente o seu ser.
No caso do palestrante, um de seus projetos mais re-
centes é o resgate de meninas da prostituição infan-
til, em especial em regiões do Nordeste brasileiro. Sensibilizado com a situação, o filan-
tropo criou uma ONG que se dedica ao atendimento de jovens envolvidas nessa situação
de risco. O problema havia “tocado seu coração”, em suas palavras.
O segundo conselho: “trate a filantropia como trata seus investimentos”. Para um pro-
jeto filantrópico dar certo, explicou o palestrante, ele deve ser tratado como se trata um
negócio: ter planejamento financeiro, estratégico, um time competente na sua gestão e,
acima de tudo, deve haver cobrança por resultados.
Passado algum tempo, dia desses me deparei com um artigo publicado no jornal New
York Times intitulado “Want to help? Do your research before you donate” (Quer ajudar?
Faça sua pesquisa antes de doar). Em certo trecho, o autor escreve “(...) ache uma orga-
nização com uma missão clara e resultados comprovados. Trate suas doações como seus
investimentos e tenha um portfólio balanceado. Acima de tudo, siga sua paixão, de causa
a causa”.
Concluí, portanto, que as ideias que havia escutado no evento não eram algo isolado, mas
o eco de uma fala universal. O empresário, independentemente da representatividade de
suas operações, é um agente com imenso potencial de transformação social. A teia de
pessoas impactadas pela atividade da sua empresa vai de funcionários a clientes, de acio-
nistas a fornecedores. E a filantropia – por que não? – também pode estar neste pacote,
de modo a atingir ainda mais pessoas.
Ao “praticar o bem”, a empresa, por vezes, tem alguma vantagem tributária ou um ga-
nho de reputação. Aliás, às vezes, esses efeitos são a própria razão para a tomada de de-
cisão de participar de alguma ação social, em um mundo empresarial em que, como não
poderia deixar de ser, a meta maior é o lucro. Mas isso não importa. O importante é fazer
o bem.
Por Gabriel Zugman, advogado com
atuação na área do Direito Societário,
mestre em Direito Empresarial e
Cidadania
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