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Revalidação de diplomas de
brasileiros e estrangeiros:
um gargalo que precisa ser
solucionado
Por João Marques da Fonseca, consultor
especializado em mobilidade global
D
iferentemente do que muitos imaginam, a re-
validação de diplomas no Brasil não tem sido
uma tarefa árdua apenas para quem atua no
setor da saúde, como os médicos. Pelo contrário,
esta tem sido uma missão, muitas vezes insana, para
profissionais brasileiros e estrangeiros que atuam
também em outras áreas, sejam engenheiros, físicos,
químicos, entre outros. Mesmo com certificações de
diversos graus de formação (tecnólogos, pós-gradu-
ado, doutores, mestres, pós-doutores e PhD) estes
especialistas passam pela mesma frustração de não
conseguirem ter a sua formação reconhecida em
nosso País.
Nos últimos anos, milhares de brasileiros foram apri-
morar os seus conhecimentos em universidades in-
ternacionais. Inclusive, grande parcela destes estu-
dantes são funcionários públicos ou conquistaram
bolsas de estudos para tal ação. O que isso quer dizer? O investimento para estes estudos
foi realizado, muitas vezes, com o dinheiro do Estado. Só que o aprendizado obtido por
estas pessoas, em sua maioria, não poderá ser aplicado e aproveitado no Brasil, já que
estes profissionais não conseguem a revalidação de seus diplomas.
Você pode estar se perguntando, mas qual a relevância deste tema para o País? Sem
dúvida, é um assunto de extrema importância. Já que essas pessoas, altamente qualifi-
cadas, poderiam estar auxiliando o desenvolvimento econômico do Brasil, agregando o
conhecimento trazido de fora em nosso mercado de trabalho, bem como contribuindo
imensamente com o mundo acadêmico (que está extremamente fechado e atrasado). O
que seria um grande avanço para toda a nação.
Neste quesito, somos atrasados, pelo menos, meio século em relação aos demais países.
Se pararmos para analisar, o Brasil recebeu cerca de 300 mil pessoas de alta qualificação
nos últimos 30 anos, com graduação, pós-graduação, doutorado, mestrado etc., desde
as privatizações das telecomunicações, por exemplo, além dos investimentos empresa-
riais produtivos. Entretanto, nem 1% destas pessoas tiveram seus diplomas e certificados
reconhecidos por aqui, o que torna o Brasil nada competitivo, quando o assunto é atrair
(e reter) ‘cérebros’.
Se fizermos um comparativo com o Canadá e a Austrália, estes 300 mil profissionais cor-
respondem a, no máximo, três anos de imigração laboral canadense ou australiana, onde
o reconhecimento e a inclusão destes cérebros são de interesse da nação e não visa pro-
teção Cartorial Acadêmica. Agora, pergunto: Será que eles estão errados e nós certos?
Acredito que não. Já que não precisamos de muitas pesquisas para vermos que os per-
centuais de desenvolvimento de cada um desses países são imensamente superiores ao
do Brasil.
Com a falta clara de inovação, intercâmbio, retenção e não reconhecimento destes cére-
bros nacionais e estrangeiros e com a criação de milhares de novos cursos e Universida-
des nos últimos anos, qual é a qualidade técnica de ensino que está sendo aplicada aos
nossos filhos e netos? A não correção dessas práticas nocivas ao nosso desenvolvimento,
nos coloca em atraso e desvantagem intelectual, obrigando-nos a cada vez mais garantir
a reserva de mercado por falta de oportunidades inovadoras.
Portanto, precisamos atrair pessoas capacitadas para o trabalho no Brasil (atendendo ao
interesse nacional); facilitar a migração e o retorno de brasileiros mediante a desburocra-
tização da revalidação dos diplomas. Desta forma, conseguiremos mesclar conhecimen-
tos, culturas, aprimorar mercados/setores que carecem de pessoas capacitadas. Será que
mais vidas deverão ser ceifadas por intermédio de falha humana para que o Brasil reco-
nheça a real carência de profissionais, nacionais e estrangeiros, de alta qualificação aca-
dêmica?