ARTIGO
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e movimentos. Esses são os novos núcleos de poder. Uma força que nasce nas margens,
ensejando o que podemos chamar de “poder centrípeto”, em contraposição ao “poder
centrífugo”, este formado pelas instituições centrais, os Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, nas instâncias federais, estaduais e municipais.
Essa modelagem passa a agir como um rolo compressor sobre os Poderes constitucio-
nais. Assim raciocina o eleitor: se meu representante ou o governante não conseguem
atender as necessidades, vou bater na porta de minha entidade. Sob tal configuração,
desenvolver-se-á a ação da política no Brasil, com alteração de comportamentos, mudan-
ça na feição dos protagonistas, redefinição dos pacotes sociais, redimensionamento dos
recursos, reordenamento de meios e compensações para os programas regionais, etc.
Os novos horizontes, sob tal panorama, são promissores. A democracia participativa fin-
ca estacas profundas na seara social. O que vai reforçar os três instrumentos que, hoje, a
ancoram: o referendo, o plebiscito e o projeto de lei de iniciativa popular. Redesenha-se,
assim, uma paisagem mais fértil no campo democrático, corroborando um dos significa-
dos da expressão japonesa para a palavra crise: oportunidade. Ou seja, vamos extrair das
crises a oportunidade para o país refazer o seu modus faciendi de operar a política.
Pano de fundo: o Brasil é um país de dimensão continental, com imensas riquezas na-
turais, não registra as catástrofes naturais que ocorrem em diversas regiões do mundo,
abriga o maior e mais qualificado agronegócio do planeta, tem sol o ano inteiro na região
Nordeste e um dos maiores potenciais turísticos do mundo. O que falta, por aqui, é uma
taxa menor do que podemos chamar de Produto Nacional Bruto da Corrupção (PNBC).
Há outros componentes que devementrar no jogo. A política não é selva para praticar tiro
ao alvo contra animais. As disputas precisam entrar no foro do respeito e da seriedade.
Os compromissos hão de ser executados. Urge deixar de lado as promessas mirabolan-
tes, as emboscadas, a radicalização, o ódio, o terraplanismo, os ideários ultrapassados. O
lema a guiar nossos passos: cada um cumpra o seu dever.
Por Gaudêncio Torquato, jornalista,
é professor titular da USP, consultor
político e de comunicação