ARTIGO
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O Velho Oeste de bytes
J
á presente em nossas vidas como um dado da
natureza, contamos duas décadas desde a che-
gada da internet de banda larga no Brasil e 10
anos da adoção maciça de smartphones e redes so-
ciais. Com esta maioridade adquirida, cabe olhar para
trás, em volta e para o espelho com algumas pergun-
tas. A tal “grande estrada da informação” de fato
funciona conforme a lógica progressista de quem a
concebeu? Esse mundo mais informado que surgiu
traduziu-se em uma sociedade mais racional, livre e
plural? Ou as ferramentas de comunicação em reali-
dade aprofundaram problemas antigos e facilitaram
a vida de forças ocultas para aumentar distorções na
vida individual e coletiva, interferindo até na vida po-
lítica de uma sociedade? A resposta, talvez já saiba-
mos.
Os dados mais do que sugerem o atropelamento da utopia inicial. Uma solução pensada
para superar o nosso problema secular de desinformação, e o preconceito e ódio vindos
em sua esteira, hoje é adotada para a disseminação maciça do que se propunha a erra-
dicar – o medo que leva à paúra das massas. Esse sentimento dá asas à disseminação do
conteúdo identificado como falso. Segundo AAAS, a difusão de notícias falsas pode ser
até cem vezes mais viral em comparação com notícias verdadeiras.
Os levantamentos indicam ainda uma preferência humana por acessar conteúdo alinhado
com suas crenças e preferências. Logo, não é forçado especular sobre o potencial viral de
notícias falsas e consonantes à crença de quem as dissemina. Somando-se isso ao acesso
irrestrito à (des)informação temos, na contramão do idealizado, um encurtado caminho
aos suspeitos de sempre para semear boatos, turbulência e, mais grave de todos: defor-
midades adicionais na já falha representatividade da sociedade em governos e Estados.
Muito se discute, em escala global, sobre o fracasso do modelo político da Democracia
Representativa na tarefa de refletir os anseios e interesses da sociedade moderna. “A
pior forma de governo imaginável, exceto todas as outras”, por Sir. Winston, aqui corre-
tamente citado, hoje encontra-se sob ataque feroz. Forças políticas não se dão mais ao
trabalho de colocar tanques na rua como em outros tempos. A facilidade de se contornar