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ARTIGO
A nova lei do bullying e a
prática do diálogo
Por Frederico Costa Greco - Foto Divulgação
Frederico Costa Greco
é mestre em Direito
T
ema abordado e utilizado há alguns anos, o
bullying é conceituado por muitos estudiosos
como a prática de atos intencionais e repeti-
dos de violência física ou psicológica. A palavra de
origem inglesa provém da palavra bully, que signi-
fica brigão ou valentão. Estudos sobre esse fenô-
meno indicam que o ato violento pode acontecer
durante toda a vida de determinadas pessoas, ini-
ciando na infância e chegando inclusive à velhice.
Muitos que praticam o bullying foram alvos da vio-
lência de outros, repetindo assim o comportamen-
to violento que receberam nas suas mais diversas
relações.
Mas, a grande questão que fica disso tudo é iden-
tificar, reconhecer e esclarecer os atos violentos
praticados, para que eles possam ser substituídos
por outros atos livres, que respeitem a dignidade
de todos e de cada um. Sendo assim, é mais pru-
dente trabalhar com esse tipo de violência quando
ele ainda está no seu início, ou seja, quando eles
acontecem ainda na infância ou adolescência. Nes-
se sentido, entrou em vigência este ano no Brasil, a
Lei 13.185 de 2015, que institui o Programa de Com-
bate ao Bullying para todos os estabelecimentos de
ensino, clubes e agremiações recreativas.
Essa lei determina a prevenção, educação e cons-
cientização do bullying; a responsabilização daque-
les que o praticam, bem como o desenvolvimento
da capacitação empática dos envolvidos e a pacifi-
cação das relações ali praticadas. Todavia, como a
violência deflagrada por esse ato violento, que é um
fenômeno altamente destrutivo, pode ser revertida
e assim alcançar todas essas metas e objetivos colo-
cados pela lei?
A resposta vem em uma palavra: diálogo! A prática
do diálogo é omodomais poderoso e tambémmais antigo para lidar com todas as formas
de violência existentes na face da terra, inclusive e principalmente com obullying. Somen-
te isso, a prática do diálogo, pode trazer responsabilidade para aqueles que cometem
violências, de modo que eles mesmos desenvolvam empatia, cultura de paz e liberdade.
Se a solução para as ações violentas como as que estão sendo tratadas pela referida lei é
o dialogo, porque ainda existem? Simples, não sabemos dialogar! É exatamente por isso
que a violência prolifera em todos ou em quase todos os ambientes. Muitos de nós ou to-
dos nós temos facilidade para confundir o diálogo com outras práticas ou procedimentos
que não são efetivamente dialógicos. Assim, acabamos por não usar o diálogo para lidar
com nossos conflitos, violências e especialmente com o bullying.
O diálogo começa pela observação de um fato qualquer dentro de uma relação conflitu-
osa sem avaliá-lo ou sem julgá-lo. Em seguida, se faz pela expressão dos sentimentos que
aquele ato específico, observado sem julgamento, gerou na pessoa que sofreu o bullying.
Dizer sobre os próprios sentimentos é um caminho necessário para caracterização de
todo e qualquer diálogo. Quando não ocorre exposição de sentimentos, ou pelo menos
tentativa de exposição, o diálogo efetivamente não acontece. O próximo passo na práti-
ca do diálogo é expressar as necessidades que estão acopladas aos sentimentos previa-
mente expostos, o porquê não deve sofrer a violência.
Somente seguindo essa trilha segura podemos afirmar com convicção que o diálogo terá
ocorrido. Mas ainda falta mais um passo para que o diálogo seja completamente caracte-
rizado: a formulação de algum pedido por parte de quem sofre com a violência. Ou seja,
expressar o desejo que tal ato não ocorra mais ou de que alguma ação positiva deva ser
praticada para reparar os prejuízos. Contudo, a outra parte de um diálogo consistirá em
que a outra pessoa envolvida no conflito também possa se expressar por esses quatro
passos. Tais passos ou princípios foram desenvolvidos conceitualmente pelo psicólogo
social norte-americano Marshall Rosenberg, que criou a tese mundialmente conhecida
como Comunicação Não Violenta ou CNV.
Sendo assim, a nova lei do bullying, que institui a obrigação de instituições como escolas,
clubes e associações criarem programas com objetivos de responsabilização, capacitação
empática, conscientização e educação, cultura de paz, dentre outros, conseguirá atingir
esses objetivos se for usado o diálogo por essas instituições para reverter esta violência.
E a CNV pode ser uma trilha segura para o desenvolvimento do diálogo.
Somente o diálogo, prática tão ou mais antiga do que a aplicação de leis, pode fazer fren-
te ao bullying de uma maneira eficaz, permanente e duradoura em nosso país. Somente
o resgate do diálogo pode contribuir de maneira poderosa para a mudança cultural no
modo como as relações são praticadas nessas instituições e associações. Precisamos vol-
tar com urgência para os ensinamentos do diálogo!